27.06

Aluna de uma escola do Cabo, ela vence concurso nacional com o apoio de professores engajados.

Marcionila Teixeira (texto)
Randy Augusto (foto)

Alana Isabela dos Santos, 13 anos, gostaria de ter acesso ao laboratório de informática da sua escola. Ele está todo montado, com os computadores em bom estado, esperando por mãos ansiosas para tocarem em seus teclados. O ambiente, porém, está de portas fechadas porque a prefeitura precisa fazer um novo contrato com uma empresa de manutenção de computadores. A estudante do 8° ano da Escola Municipal Antônio Benedito da Rocha, no bairro de Garapu, no Cabo de Santo Agostinho, também gostaria de voltar a pegar livros didáticos emprestados na biblioteca da mesma unidade de ensino. Mas não pode. E não se sabe o porquê. A estrutura física da escola parece não acompanhar o talento da menina. Que precisa de mais. Como qualquer outro aluno.
A estudante é oriunda de escola particular. Mas, após concluir o 4° ano, a mensalidade pesou no bolso dos pais, donos de uma escolinha de informática no município. Alana é dedicada aos estudos. Conta investir cerca de duas horas por dia aos livros escolares, incluindo os sábados e domingos. É considerada boa aluna. Em geral, alcança a média nove nas matérias ofertadas para sua turma.
O desempenho de Alana, porém, não pode ser considerado dominante no ensino público. Na rede municipal do Cabo, por exemplo, a evasão escolar chega a 3%. A média de analfabetos na cidade está em 12,5%, segundo dados do último Censo do IBGE, ou seja, acima da média nacional, que é de 10%, como afirma o próprio secretário municipal de Educação, Adelson Moura. Traduzidos os números, tratam-se de pessoas fora da escola e sem acesso a direitos.
Acontece que a adolescente terminou selecionada por um professor da escola para participar de um concurso nacional. O mestre chama-se Gilson Amaro, 53 anos, 17 deles dedicados à educação na rede municipal do Cabo. Ele ensina matemática, mas juntou-se à professora de português, Mariana Santana, para promoverem uma minisseleção entre alunos interessados em preparar textos sobre consumo consciente nas escolas. O material seria enviado ao IV Concurso Nacional de Redação Jogue Limpo, realizado pelo Instituto Jogue Limpo, sediado no Rio de Janeiro. Cada escola poderia mandar uma carta e uma dissertação. Alana fez uma carta. E venceu. Foi a única pernambucana a conquistar a vitória. “A gente deve aplicar o que já existe para estimular o consumo consciente. Não jogar lixo no chão, não desperdiçar merenda. Não precisa criar novas ideias”, reflete a adolescente.
Felizmente, escolas não são feitas apenas de estruturas físicas. São feitas principalmente de material humano. Professores dedicados moveram os alunos que, incentivados, participaram da seleção. O caso da vitoriosa Alana me fez lembrar de uma outra história. A de um menino, ex-interno do Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) de Abreu e Lima, uma das mais violentas da Funase. Atendido por um grupo de voluntários da Sementes de bem, uma associação atuante no Case, ele revelou-se músico, toca sete instrumentos de sopro, e terminou encaminhado para uma bolsa no Conservatório Pernambucano de Música. Se os voluntários não tivessem atuado, o percurso do adolescente poderia ter sido outro. Não se sabe o final da história, mas é certo que ela foi reiniciada da melhor forma.
Ofertar estrutura, encaminhamento, provocar, incentivar crianças e adolescentes é papel do adulto, seja ele família, educador, voluntário, funcionário público. Ficar de braços cruzados esperando o talento surgir em meio a um cenário pouco promissor é a pior escolha. “Segurar pela mão” e levar adiante pode ser uma alternativa. Como se os filhos dos outros também fossem nossos filhos. Como gostaríamos que nossos filhos fossem tratados pelos outros adultos. Não se trata de fórmula. Trata-se de cooperação. Para o bem de todos.