O trânsito, sempre ele, vem alterando de forma drástica a paisagem do Recife desde que os motores aposentaram de vez os cavalos nas ruas no início do século 20. Erguidos em 1643 para serem as portas de acesso à Ponte Maurício de Nassau, os arcos da Conceição e de Santo Antonio foram postos abaixo por “necessidade do tráfego” em 1913 e 1917, respectivamente. Se tivessem sido preservados – bastava os novos veículos circundarem os monumentos ainda da época colonial – seriam atrativos turísticos e não apenas imagens de antigos retratos e cartões-postais pertencentes hoje ao acervo da Fundação Joaquim Nabuco. Era assim que os bondes faziam. Mas estes também sumiram do mapa.
Em 28 de outubro de 1919, o Diario de Pernambuco trouxe um registro da colocação de placas comemorativas da reconstrução da primeira ponte do Recife – e do Brasil -, realizada em 1917. Feitas em bronze maciço nas Oficinas das Obras Públicas a mando do engenheiro Herculano Ferreira, ainda estão lá para contar a história. O arco da Conceição foi “arrasado” – de acordo com o texto de uma das placas – em 1913. O arco de Santo Antonio ainda resistiu por mais quatro anos.
Inicialmente, ainda na época dos holandeses, duas portas foram construídas para vedar a passagem das pessoas que não pagassem o imposto de trânsito pela antiga ponte, mandada ser erguida pelo conde Maurício de Nassau.
Em 1746, o mestre entalhador João Pereira foi contratado pelo governador D. Marcos de Noronha para entregar duas imagens de pedra, uma de Nossa Senhora da Conceição (padroeira do reino de Portugal) e outra de Santo Antonio (padroeiro de Pernambuco), para serem colocadas em nichos nos arcos de cantaria erguidos nas entradas da ponte.
O historiador Pereira da Costa argumentava, em texto publicado no Diario de Pernambuco de 7 de janeiro de 1911, que os arcos, principalmente o de Santo Antonio, não seriam um monumento artístico de regular merecimento, mas alertava para a sua importância história. “Sua arquitetura é simples, e o todo da obra é de proporções acanhadas, mas em compensação é um monumento antigo e respeitável, que marca os limites da primitiva ponte de construção holandesa, e um modesto padrão levantado às nossas glórias e tradições”.