15.07

A atriz Jennifer Aniston se diz farta da cobrança para que seja magra e tenha filhos e ataca modelo vigente.

Luce Pereira (texto)
Silvino/dp (arte)

Repetir padrões de comportamento sem o mais leve sinal de desconfiança de que eles são manipulados, sobretudo, por gigantes da economia global é se candidatar, de olhos fechados, à infelicidade. E nem sempre esta conclusão surge sem que antes a pessoa tenha experimentado maus pedaços tentando se adequar ou fugir deles. Nesta última categoria está a consagrada atriz Jennifer Aniston, que não escapa das más línguas à espreita de celebridades, em Hollywood e em outras partes do mundo. Desde que o cinema é cinema, os famosos devem não apenas ditar padrões de moda e comportamento como segui-los à risca, sob pena de perder o sossego – caso de Aniston, perseguida, entre outras coisas, por não ter filhos (como diriam as tais línguas de trapo, nem com Brad Pitt, com quem foi casada) e ignorar a regra da magreza a todo custo.
“A mensagem de que as meninas não serão bonitas se não estiverem incrivelmente magras, de que não merecem nossa atenção se não forem uma supermodelo ou uma atriz na capa de uma revista, é uma mensagem que todos compramos. Esse condicionamento é algo que as meninas levam até a maturidade. Usamos as notícias de celebrities para perpetuar esse sistema que desumaniza a visão das mulheres, centrando-se unicamente na sua aparência”, escreveu a atriz na coluna que assina em um blog. Aniston tanto deseja romper com os padrões estéticos reinantes que não aposentou o biquini por ostentar uma “barriguinha”, logo entendida pela imprensa sensacionalista como a existência da tão cobrada gravidez. A foto em que aparecia de pé, com o marido, em uma praia, logo virou capa de revista, acompanhada da especulação que arrancou dela o desabafo: “Não estou grávida, estou farta”.
O que a atriz disse, “não precisamos ser magras, casadas ou mães para sermos completas”, o psicólogo e pesquisador da Universidade de Harvard (EUA), Dan Gilbert, assinaria embaixo sem pestanejar. O cientista, que fala com a autoridade de quem vive enchendo plateias onde chega para dar palestras e tem seus trabalhos publicados nas mais respeitadas revistas científicas do planeta, descarta várias fórmulas de felicidade transformadas em mito, como a que toma por base um conselho clássico dado pelas mães aos filhos – casar, ganhar dinheiro e ter filhos. Pelo que concluiu através de suas pesquisas, Gilbert constata que estes três ingredientes não necessariamente conduzem à felicidade. Segundo ele, seria o que chamou de “mente errante” a resposta para explicar o descaminho até essa palavra mágica – as pessoas pensam no que está acontecendo tanto quanto no que não está.
Antes de pensar em ler o best seller O que nos faz felizes, de Gilbert, não seria má ideia refletir sobre o quanto cada pessoa acumula de infelicidade ao se permitir escravizar por padrões que não se encaixam em suas possibilidades físicas, financeiras ou emocionais, apenas porque “está na moda” ou porque a desobediência a eles vai produzir o desconforto de parecer “diferente”. O que a postura da atriz e a fala do psicólogo dão a entender é que a felicidade consiste justamente em cada um encontrar o seu jeito de existir no mundo, pois a individualidade é que traça o caminho, não existindo uma fórmula ou receita que valha para todos.
Embora nenhuma pesquisa tenha se dedicado a ouvir parte do universo de pessoas inclinadas a ao menos questionar as “cobranças” que redundam em prejuízos (sobretudo emocionais) para parcela tão grande da população, é notório o movimento de indivíduos dispostos a ir se desvinculando dos tais modelos.Uma decisão feita de pequenas atitudes, porque, afinal, desconstruir mitos, conceitos e padrões não é uma tarefa a que se dê cabo do dia para a noite. Eles, também, precisaram de muito tempo para condicionar o mundo a colocá-los entre as maiores verdades.