Em 1848, o Recife vivia uma época agitada, com uma guerra iniciada primeiro nos jornais (o Diario de Pernambuco, inclusive) e depois nas ruas. Era o tempo da Revolução Praieira, movimento de caráter liberal e federalista que defendia a redução do poder do imperador, o voto livre e universal e o fim do recrutamento militar. A revolta teve fim dois anos depois, com mortes e prisões. Era neste ambiente que circulava o artista H. Lewis, autor de gravuras que depois formaram o álbum “Vistas e costumes de Pernambuco”, que integra hoje o acervo da Biblioteca Nacional.
Não há muita informação na internet a respeito de quem foi H. Lewis. Há até dúvidas a respeito da sua existência. Uma das hipóteses é de que seria um pseudônimo usado pelo norte-americano J. C. Reinhardt, médico que se estabeleceu em Campinas e deixou muitos desenhos da cidade paulista.
Pelo seu traço, aparenta mesmo ser um diletante. Mas devemos a ele conhecer mais as pessoas que viviam na capital pernambucana em um Império contestado por revoltas em várias províncias. O que se vê dos desenhos de H. Lewis é uma sociedade escravagista, com forte influência da religião e com vocação para o comércio e as atividades agrícolas e pastoris. Curioso é o uso da palavra “matuto” para designar um vaqueiro, por exemplo.
Além dos objetos em cena, como os meios de transporte da época, é interessante ver os figurinos e as expressões dos religiosos, dos senhores dominantes e dos escravos em suas mais diversas atividades.Deveria ter despertado curiosidade aquele estrangeiro fazendo seus rabiscos de situações aparentemente tão banais. Mesmo por linhas tortas, H. Lewis estava desenhando era história. A nossa. E a dele também…