Em Foco 25.07

Projeto da Diaconia prevê construção de dez imóveis exemplares em Afogados da Ingazeira, no Sertão

Marcionila Teixeira (texto)
Arte/DP (imagem)

A pobreza de Damiana Juliana de Oliveira Gouveia, 23 anos, pode ser medida pela simplicidade de sua habitação, uma casa de taipa fincada no Sítio Lajedo, em Afogados da Ingazeira, no Sertão pernambucano. Nela, moram Damiana, o marido e a filha do casal, com um ano. O imóvel foi emprestado pelo pai dela, um agricultor, após o casal ajudar a erguer a habitação. Em um mês, a família arruma as malas para deixar o espaço. Segue para um local pequeno, é verdade, mas com estrutura mais confortável e saudável para uma pessoa viver. A nova casa será composta por dois quartos, sala, cozinha, área de serviço e banheiro. Está em obras a dez metros do local onde Damiana vive. E o mais importante: será uma habitação sustentável, um exemplo a ser seguido por qualquer brasileiro.
O imóvel terá 47,4 metros quadrados de área construída. Custará em torno de R$ 31 mil. Uma ninharia para o fim ao qual se propõe. O projeto da casa prevê acessibilidade para pessoas cadeirantes – com rampas, além de portas mais largas – reutilização de água, cisterna para captação da chuva e produção de gás própria a partir de um biodigestor alimentado por fezes de caprinos, suínos, ovinos e bovinos.
Além da casa de Damiana, outras nove semelhantes serão erguidas no município. A iniciativa faz parte do projeto Moradia com ecodignidade, cujo objetivo é garantir acesso a casas sustentáveis para famílias em situação de vulnerabilidade social. Muitas convivem com duas ou três famílias em uma mesma residência ou moram em casas cedidas por terceiros. A Diaconia está à frente da iniciativa, com o apoio do Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR), Fundo Socioambiental Caixa e da Prefeitura de Afogados da Ingazeira.
Uma outra novidade é quanto ao registro do imóvel. A maioria será registrada no nome das mulheres. Isso porque, explica Adilson Vianna, coordenador do projeto pela Diaconia, geralmente são elas as responsáveis pelos filhos após o final dos relacionamentos. Essa seria, portanto, uma garantia de um teto próprio para a mulher e as crianças. “Apenas uma casa ficará no nome de um homem, pois a companheira deixou a casa e ele ficou com os filhos do casal”, justificou Adilson.
A cada mês, a Diaconia entregará uma casa a uma família. Serão erguidas em partes de terrenos doadas por parentes ou em áreas cedidas pelos pais. As famílias, conta Adilson, foram escolhidas pela precariedade de suas habitações a partir de um trabalho de agroecologia desenvolvido em parceria com o Centro Sabiá, em Afogados da Ingazeira.
Na casa sustentável, a água suja oriunda do banho e do lavador, chamada água cinza, será canalizada para um filtro com areia e pedra e despejada em um tanque, de onde pode seguir para aguar as plantas do jardim. A ideia é incentivar a plantação de mudas adaptáveis à sombra e, como consequência, a multiplicação do verde, e de fruteiras, como o umbuzeiro, que é da região, e o pé de seriguela, ambos com boa convivência na seca. Por enquanto, o líquido não deverá ser utilizado em hortaliças até que sejam divulgados resultados de pesquisa apontando para essa viabilidade.
O banheiro também é diferenciado. É redondo e mede dois metros para proporcionar a acessibilidade. A cisterna, custeada pela Prefeitura de Afogados de Ingazeira, ficará no telhado e sua água poderá ser usada para consumo humano, pois será captada na chuva. Em uma região onde chuva é considerada presente divino, a reutilização do produto é providência. Prioridade.
A Diaconia também tentou instalar a energia solar nas pequenas casas, mas optou pela instalação de cisternas, cujo custo terminou mais acessível à prefeitura. Além das moradias, serão oferecidas as famílias ações voltadas para as áreas de educação sanitária, saúde, meio ambiente, cidadania, justiça de gênero e violência contra a mulher, defesa dos direitos da criança e do adolescente, empreendimento, educação patrimonial, geração de renda, noções de como fazer o seu planejamento familiar. Sete casas serão erguidas no Sítio Lajedo e comunidades vizinhas, duas no Sítio Santo Antônio II e uma no Sítio Baixio. Todas têm o importante papel de mudar conceitos sobre sustentabilidade e moradia na sertaneja Afogados da Ingazeira. Mas bem que poderiam ganhar o mundo.