Rio Capibaribe - Crédito: Fundação Joaquim Nabuco/ Coleção Josebias Barbosa

Rio Capibaribe – Crédito: Fundação Joaquim Nabuco/ Coleção Josebias Bandeira

“O rio está ligado da maneira mais íntima à história da cidade. O rio, o mar e os mangues. Assassinatos, cheias, revoluções, fugas de escravos, assaltos de bandidos às pontes, fazem da história do Capibaribe a história do Recife”. Era assim que o sociólogo Gilberto Freyre descrevia o principal rio que banha a capital pernambucana (o outro é o Beberibe. Juntos, eles formam o Oceano Atlântico, segundo a megalomania pernambucana) no livro “Guia prático, histórico e sentimental da cidade do Recife”, lançado em 1942. Já naquela época, há 74 anos, o escritor queixava-se da falta de respeito com um dos principais símbolos desta parte do Brasil: “hoje o Capibaribe encontra-se poluído por dejetos orgânicos, coberto de lama e assoreado”.

Vista do cais da ponte D"Uchoa no Recife - Crédito: Luiz Schlappriz/Acervo Instituto Ricardo Brennand

Vista do cais da ponte D”Uchoa no Recife – Crédito: Luiz Schlappriz/Acervo Instituto Ricardo Brennand

Nem sempre foi assim. No século 19, o rio era um balneário, com suas margens na Várzea, Poço da Panela, Ponte de Uchôa e Monteiro sendo pontos de banho público. O acesso ao centro do Recife era feito através de canoas, que também transportavam mercadorias. O Capibaribe integra o cenário das litografias do suíço Luiz Schlappriz, com data de 1863. Impressas na oficina do editor alemão Francisco Henrique Carls, elas apresentam um panorama do Recife com o casario à margem, vegetação e pessoas nos seus afazeres em trechos como a Ponte D’Uchoa e Sítio do Fonseca (Madalena).

Sítio do Fonseca, bairro da Madalena - Crédito: Luiz Schlappriz/Acervo Instituto Ricardo Brennand

Sítio do Fonseca, bairro da Madalena – Crédito: Luiz Schlappriz/Acervo Instituto Ricardo Brennand

Na imagem que ilustra esta postagem, um cartão-postal sem data que integra a coleção Josebias Bandeira, da Fundação Joaquim Nabuco, pode-se ver, ainda nas primeira décadas do século 20, até uma praia no trecho compreendido hoje entre a Rua Princesa Isabel e Avenida Conde da Boa Vista. Do casario na outra margem apenas foram conservados o Teatro de Santa Isabel e o Liceu de Artes e Ofícios. Os outros casarões deram lugar a prédios sem o mesmo charme e distinção.

Passagem do Capibaribe, imagem atribuída a Luiz Schlappriz

Passagem do Capibaribe, imagem atribuída a Luiz Schlappriz

Nos últimos anos, o rio das capivaras ou dos porcos selvagens (tradução do Caapiuar-y-be, da língua tupi) voltou a ficar em evidência por causa de projeto que resgatava a sua navegabilidade. Seria uma oportunidade de dragagem e também de reduzir o despejo de poluentes, mas a proposta encalhou. Ou morreu na praia. Que já não existe mais.