01.08

Casal recicla estofados descartados nas ruas, reverte em renda e ainda ajuda o meio ambiente.

Marcionila Teixeira (texto)
Ricardo Fernandes (foto)

André dos Santos e Ivanise Moreira, ambos com 47 anos, têm um hábito incomum. Saem às ruas da capital e da Região Metropolitana do Recife em busca de sofás desprezados no lixo pelos antigos donos. Em três anos, retiraram das ruas cerca de 500 peças. Algumas até raras e de alto valor, como dois modelos italianos abandonados no Pina, na Zona Sul do Recife. O casal, que vive junto há cinco anos, não tinha qualquer ideia ambientalista em mente quando começou a fazer a caça aos estofados. Apenas encontrou, na ocasião, uma oportunidade de ganhar dinheiro com a reforma e venda dos sofás. O negócio deu certo. Hoje, André e Ivanise já começam a perceber a importância da reciclagem da valiosa madeira daquele móvel velho para o meio ambiente.
Depois de recolhidos das ruas, os sofás passam por uma espécie de dissecamento. São retiradas a espuma e a coberta antigas para darem lugar às novas. Apenas a madeira é aproveitada. Por isso não costumam pegar o móvel em rios ou canais, pois a madeira fica encharcada. A captura obedece uma lógica. “Pego aqueles que têm um design que me agrada. Recolho uns três por semana, mas acho muito mais, só que nem todos interessam. Alguns também são doados”, conta André. Um imenso sofá branco, por exemplo, vai seguir para a casa de uma rezadeira do Alto Santa Isabel, antiga conhecida do casal. Servirá para acomodar as dezenas de pessoas que buscam os serviços da idosa na casa simples.
Para executar a tarefa de caça aos sofás, André e Ivanise contam com uma caminhonete e um Gol, este último acoplado a uma carroça Chico City. “Não tem bairro certo. Em qualquer lugar a gente encontra sofá. A gente já sai de olho. É como um vício. Aí já penso: esse lixo é meu”, brinca André. Antes donos de uma confecção de fardamentos, eles viram a renda crescer a partir do abandono alheio. O estofado mais caro vendido por eles até hoje custou R$ 14 mil. Exatamente o tal modelo italiano encontrado no Pina. “A gente compra a espuma e os tecidos, mas mesmo assim o lucro é mil por cento”, comemora Ivanise.
Além de usar material obtido nas ruas, o casal também faz sofás sob encomenda. Enquanto ela costura, habilidade adquirida desde a infância, quando fazia vestidos de bonecas, ele assume a montagem e o estofamento. O preço mínimo é R$ 800. André conta que nem todo cliente conhece a origem do sofá novo que está levando para casa. “Tem gente que tem preconceito”, lamenta. Enquanto isso, tem gente dando o maior valor à iniciativa. “Tenho clientes em todo canto, inclusive em bairros mais abastados, como Boa Viagem, Casa Forte e Espinheiro”, conta.
A atividade surgiu por um acaso. André e Ivanise haviam acabado de ter uma decepção com a reforma de um sofá deles. Nas ruas, dias depois do desentendimento com o rapaz contratado para o serviço, encontraram um belo móvel jogado no lixo. Colocaram no carro, reformaram eles próprios e rapidamente venderam. Estava iniciado o novo negócio que traria prosperidade financeira à família.
Os sofás preferidos da dupla são os quadrados, que nunca saem de moda, afirmam. André e Ivanise dizem que os estofados indesejados pelos antigos donos podem ser deixados na local onde trabalham e moram. O endereço é Rua Maria Amália, no bairro da Macaxeira, 900 B, bem ao lado do Campo da União. O casal agradece. E o meio ambiente também.