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Polêmicas envolvendo atriz e nadadora evidenciam poder das redes e a imagem que se deixa nelas.

Silvia Bessa (texto)
Jarbas (arte sobre fotos de Paulo Paiva e entretenimento.r7.com)

Ninguém pode ser julgado por apenas um ato. As pessoas acertam, erram, reconsideram, refazem opiniões e a imagem do que são é formada de acordo com o conjunto de uma vida. Até porque não há ser humano perfeito, nem mesmo o mais amado do entorno. Se você procurar com uma lupa de baixo potencial, vai encontrar naquele ídolo sem ibope que mora na sua casa ou está entre os tops da sua rede social, uma falha, um tropeço, algo que o fará pensar: “Isso não parece com fulano”. Os episódios envolvendo a atriz Suzana Vieira e a nadadora pernambucana Joanna Maranhão nos últimos dias valem essa reflexão. E a análise sobre os dois casos ganha sentido quando se juntam. Cabe aqui narrar os acontecimentos, as posturas distintas e seus personagens.
Ontem, a Imprensa noticiou que Suzana Vieira resolveu apagar fotos e fechar seu perfil pessoal na rede de compartilhamento de imagens Instagram. Agora ela está acessível só para amigos virtuais, aqueles que tenham a concordância dela para visualizar suas postagens. Suzana estava sendo criticada após ter tecido comentários sobre o Nordeste em Curitiba, Paraná, onde ela participou de uma espécie de comitiva de artistas em defesa do juiz Sérgio Moro – responsável por processos da Operação Lava-Jato, investigação sobre um esquema bilionário de desvio de dinheiro da Petrobras. “Eu acho que as pessoas do Norte e Nordeste não têm conhecimento do que está sendo feito aqui”. Curitiba é peça-chave das investigações e prisões e, no contraponto, foi bastante elogiada por Suzana. “Uma das capitais mais adiantadas do Brasil em civilidade, educação, limpeza, educação das crianças”.
A declaração de Suzana foi recebida como preconceito e logo surgiram lembranças de que, em 2012, ela esteve em Nova Jerusalém, Pernambuco, para interpretar Maria no espetáculo A Paixão de Cristo. Na ocasião, fez comentários referindo-se ao Nordeste como região “atrasada e miserável”. Fato é que Suzana, expoente da teledramaturgia, preferiu evitar polêmica a respondê-las e apagou foto em que ela aparecia na manifestação pró-Moro. Ponto e vírgula nesta parte da história. Abre-se um parágrafo para a nadadora.
Joanna Maranhão vem se envolvendo em controvérsias desde que ficou de fora do nado borboleta nas eliminatórias da Olimpíada do Rio de Janeiro. Ela saiu da piscina aos prantos, dizendo ter ficado chocada ao ler comentários na internet na segunda-feira anterior. Alguns defendiam que ela fosse estuprada ou parasse de nadar. Incomodada com os ataques, Joanna reagiu usando seu próprio perfil na web: “A gente dá duro todos os dias, mas o Brasil é um país homofóbico, xenofóbico, racista. Não estou generalizando, mas há pessoas que são assim e quando elas estão atrás de um computador, elas se veem no direito de agir assim”.
Não tardou. Internautas elencaram uma coletânea de mensagens antigas nas quais ela parece preconceituosa. Mencionada em 2011 por Joanna, uma ex-participante do programa televisiso Big Brother Brasil, a transexual Ariadna Arantes, respondeu de pronto: “Parece que o jogo virou, não é mesmo?”. Foi uma resposta a um tuíte, em que a nadadora dizia o seguinte: “Pronto, Ariadna, pega os 2 mil e paga seu funeral…porque você se passar por mulher só morrendo e nascendo de novo”. Diante da troca de mensagens, Joanna reapareceu e foi para o ringue aberto e público. Ontem postou um pedido de “desculpas para todas e todos que se ofenderam”. Garantiu que não pensa mais assim. A frase de retratação começou com um “Sim. Eu postei há alguns anos…”. Segue com um textão. Joanna classificou o Brasil como machista, racista, homofóbico e reconheceu ser parte desse país. Por fim, Joanna anunciou: “Não vou apagá-los (os tuítes) porque eles são um registro do que eu fui no passado (…)”.
Suzana e Joanna poderiam ser as primeiras a ficarem no fio da navalha popular das redes de relacionamento virtuais. Não são, contudo. Nem serão as últimas. Cada um que cuide do que pensa, escreve, faz e refaz sua imagem.