15.08

Debate sobre equidade de gênero e discriminação foi retomado durante a Olimpíada do Rio.

Os Jogos Olímpicos 2016, no Rio de Janeiro, suscitam a retomada do debate sobre a equidade de gênero, a discriminação e o preconceito contra as mulheres. O primeiro ouro e único ouro do Brasil até agora chegou por meio da judoca Rafaela Silva, a carioca criada na Cidade de Deus, que brigou na ruas por chinelo e está prestes a concluir o curso de psicologia. Ela se consagrou campeã no maior torneio mundial. Ao longo da carreira, em competições passadas, ela foi alvo — como renomados atletas e profissionais — do racismo e da intolerância do lado incivilizado da sociedade. Venceu as barreiras que a desigualdade socioeconômica impõe à parcela expressiva da população e busca confinar em guetos os afrodescendentes.
A paixão nacional pelo futebol ilustra o atraso brasileiro no tratamento dispensado aos universos feminino. O machismo — algo condenável — está entranhado em parcela da sociedade e contamina gravemente as instituições. Essa diferença também afeta um bom número de países cujas regras de conduta têm séculos com valores humanitários e indispensáveis à elevação do grau de civilidade das sociedades.
A Seleção feminina, apesar da falta de apoio, do descaso, da misoginia e do preconceito, está arrasando nos resultados e destacando-se como exemplo de superação ante os obstáculos que são impostos em todos os quadrantes. A equipe capitaneada por Marta, cinco vezes eleita a melhor jogadora do mundo, venceu a China por 3×0, derrotou a Suécia, por 5×1, empatou com a África do Sul em 0 a 0, eliminou a Austrália na última sexta-feira nos pênaltis e vai disputar a semifinal amanhã contra a Suécia. No comércio, é possível encontrar camisas dos craques do escrete masculino. Mas não há referência às meninas que tão bem dominam a bola no campo. A indústria não fabrica camisetas para homens que tragam a marca de Marta, Formiga ou Cristiane nas costas. Será que os amentes do futebol rejeitariam mesmo a possibilidade exibir o nome dessas atletas numa camiseta? Ou será que o preconceito fala mais alto?
Quando se compara os investimentos da Confederação Brasileira de Futebol(CBF) nos elencos masculino e feminino, é indiscutível o favorecimento a equipe dos homens, que, hoje, tem como ícone o atacante Neymar, que atua no Barcelona. Os salários entre os dois grupos é disparadamente inferior para as mulheres — não só no Brasil. Em outros países, a situação se iguala, com exceção nos Estados Unidos. Em contrapartida, a Seleção Brasileira dos rapazes frustrou inicialmente as expectativas dos brasileiros, ao empatar com a África do Sul e o Iraque. A superioridade dos meninos não se confirmou inicialmente, embora eles, pressionados pela torcida, venceu o jogo decisivo para classificação contra a Dinamarca de goleada (4 a 0) em Salvador e bateu a Colômbia no último sábado. Como a equipe feminina, está na semifinal e encara a Seleção de Honduras em busca pela medalha de ouro.
O esporte reproduz o que ocorre na maioria dos setores públicos e privados do país. As mulheres e negros têm sua capacidade depreciada. A equidade de gênero e étnica ainda é prisioneira de estudos, debates e ações de ativistas, academias e organizações que buscam a construção de uma sociedade com menos disparidades e mais igualdade.
O retardo que permeia as relações não condiz com os clamores que chegam às ruas, nem com o comportamento de expressiva parcela de homens, que condena com veemência todo e qualquer tipo de violência ou discriminação contra as mulheres. Tanto o poder público quanto as instituições privadas precisam se atualizar e entrar em sintonia com o pensamento e comportamento da maioria. É essencial apressar o passo para o encontro com o respeito devido a qualquer pessoa, sem distinções. Caso contrário, serão desclassificadas no jogo da vida.