Filho de Sabino da Costa, africano trazido à força para o Brasil na época da escravidão, Felippe Balbino da Costa nasceu em 1877, no arrabalde da Torre, na época um lugar longe do que tornou-se hoje um bairro aprazível de classe média do Recife. Já na mocidade, interessou-se pela cultura negra, pelo fato de manter contato com os compatriotas do seu pai.
Depois de morar em Salvador, na Bahia, cruzou o Atlântico. Na África, tornou-se outro. Adotou a religião dos antepassados e, na volta ao Recife, tornou-se pai de santo de um culto nagô. Na estrada velha de Água Fria, fundou um terreiro, com capela para orações.
Aos poucos, Pai Adão – seu novo nome – foi ganhando fama. Quando morreu, em 27 de março de 1936, aos 59 anos de idade, a notícia do seu passamento saiu na primeira página do Diario de Pernambuco no dia seguinte. Duas mil pessoas acompanharam o enterro. “Nem Ogum, nem Aluá ouviram mais as suas preces. Estava ali estendido sem vida, esperando a complacência ou a justiça de Xangô”, registrou o jornal.
A morte foi sentida por toda a cidade. Pai Adão era famoso pela forma como acolhia as pessoas que o procuravam. Davia conselhos, fazia favores e auxiliava os mais necessitados. Místico, não queria divulgação do seu terreiro. Tanto que foi o único babalorixá que não participou do Congresso Afro-Brasileiro realizado em 1934 na capital pernambucana, promovido pelo sociólogo Gilberto Freyre e o poeta Solano Trindade. Quem quisesse, que o procurasse no seu terreiro.
Segundo o Diario, os filhos queriam que o caixão com Pai Adão fosse levado “num carro bonito, com o acompanhamento de automóveis”. O povo queria uma simples carreta, com todos indo a pé. A poeira venceu.
No dia 26 de fevereiro de 2012, o jornal voltou a falar de Pai Adão, desta vez para noticiar o pedido de tombamento do espaço como patrimônio histórico e artístico nacional. A luta continua.