25.08

Semana da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla é um chamado a uma inclusão urgente.

Silvia Bessa (texto)
Hesíodo Góes (foto)

Para expressar contentamento, Ágatha sacoleja as pernas para lá e para cá, acelera pequenos movimentos do corpo. Quem a conhece nota um esforço para destrancar a fisionomia e deixar que os olhos possam sorrir junto com a boca, conta a mãe Edlene Maria da Silva. Ela não fala, mas interage com intensidade. Gosta de festa, de barulho, de gente por perto. “Não tem medo de nada”, resume, descrevendo a menina que tem paralisia cerebral desde que nasceu, uma surpresa na sociabilização dentro de tantas limitações. Domingo a dupla de parceiras estava eufórica: ganhara o primeiro lugar na categoria mãe com filho cadeirante na corrida promovida pela Aliança de Mães e Famílias Raras (Amar), que marcou o início da Semana da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla e reuniu 400 pessoas – segundo organizadores. Faz oito anos que as duas correm juntas, no sentido mais amplo da palavra, brigando por direitos, espaços e inclusão.
Há quatro meses, Ágatha e Edilene se engajaram à Amar para buscar mais informações nessa luta que – sabemos, mas não custa lembrar – não se restringe a uma família, uma instituição. Que é mais nossa que delas porque a comunidade tem muito mais a avançar na inserção de pessoas com deficiência que elas próprias. O clima pós-olímpico e a Paralimpíada Rio 2016, com início para 7 de setembro, nos lembra da obrigação de nos envolvermos. Para mim, é obrigação mesmo. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 6,2% da população tem algum tipo de deficiência, seja auditiva, física, visual ou intelectual. O Comitê Paralímpico diz que um em cada quatro brasileiros tem algum tipo de deficiência.
A polêmica campanha “Somos todos paralímpicos”, divulgada ontem pela primeira vez na Revista Vogue e protagonizada por Cléo Pires e Paulinho Vilhena com apoio do Comitê Paralímpico Brasileiro ajuda a pensar sobre as necessidades de quem tem deficiência. Os dois atores aparecem com partes do corpo amputadas, o que gerou tanto críticas quanto elogios na internet.
Aqui em Pernambuco a semana feita de momentos festivos e reflexivos vem para ajudar nas discussões a respeito de direitos conquistados e para clamar por um envolvimento individual e coletivo. Se você fica pensando de que forma o tema lhe tange, eis uma sugestão de agenda que pode lhe tirar do papel de mero observador e levá-lo a uma conclusão: domingo, a partir das 8h30 da manhã, haverá programação para a integração de todos. Ághata, Edilene e outras 15 duplas de mães e filhos cadeirantes ou de colo exibirão uma apresentação de dança. Às 10h, haverá um “abraçaço” como ponto alto do evento.
No abraço coletivo estará a celebração de cem novos artigos inseridos à Lei Brasileira de Inclusão, de 4 de janeiro deste ano, que dá um prazo de dois anos para adequações às determinações. “Sim, este é um momento de comemoração”, pontua Pollyana Dias, presidente da Amar. Por certo, os abraços de domingo reunirão energias positivas para que empresários e autoridades públicas, sobretudo, comecem logo a pensar nos prazos e nos dias que estão correndo no calendário. Que os hotéis iniciem as obras dos 10% de quartos adaptados previstos para hóspedes, escolas providenciem estrutura para oferecer aos alunos especiais, que empresas tratem da contratação de deficientes. Bares e outros estabelecimentos, idem.
Ágatha e cidadãos como ela estão à espera de um passo a mais de cada um de nós. Perdoe-me pelo clichê, mas já estamos atrasados para tirar essas pessoas da invisibilidade.