08-09

Essa é a história de um prédio que fez do engajamento dos moradores um patrimônio extra.

Silvia Bessa (texto)
Ricardo Fernandes (foto)

Tem um condomínio de apartamentos bem ali em Olinda que é cenário de cinema. A riqueza que nele se vê é a criatividade aliada à integração dos condôminos. De dar inveja. Para os moços, tem. Para criança e idoso também tem no prédio Estação das Paineiras. A novidade dos últimos três meses é a feira orgânica e regional que se instala todas as quartas-feiras na área comum. Imagine a comodidade que é descer alguns andares e se deparar com queijo coalho, carne-de-sol, verduras e frutas fresquinhas à venda num final da noite, quando – de quebra – você se encontra com aqueles vizinhos de porta.
O luxo é apenas um dos exemplos que esse prédio dá ao aproximar a comunidade composta por 128 famílias. As datas festivas do calendário são regadas de festas custeadas pela taxa de condomínio. Então, se está próximo do dia das crianças, contrata-se um parquinho, palhaços, mágicos e o encontro dos pequenos está marcado. O calendário junino, o dia dos namorados, a folia carnavalesca, o dia das mães, dos pais, idem. Todos são contemplados com atividades. “O condomínio banca a música e a decoração e cada um leva sua comida e bebida”, conta Rogério Domingues, síndico até o mês de junho, hoje conselheiro do atual síndico, Sérgio Viana, e um entusiasta da mobilização coletiva formada em torno do prédio. Ao lado de Rogério está a mulher, Cláudia, agora experiente na organização de eventos sociais.
Sigamos porque o movimento na Estação das Paineiras é grande – e suponho que o leitor que reside em um dos milhares de edifícios do estado quer saber de tudo para correr até o síndico mais próximo. Bom, lá tem uma superfesta de réveillon. Ela segue uma dinâmica diferente. Como já virou tradição desde que o prédio foi entregue em 2010, o condomínio fica responsável por organizar a festança, contratar uma grande orquestra e controlar a venda de mesas. Nesse caso, não custeia as despesas e a negociação da entrada paga a estrutura montada. Comida e bebida continua por conta de condôminos. Cerca de mil pessoas se divertem em casa, entre amigos. “Tudo isso ajuda muito a quebrar o gelo”, crê Rogério, antes de falar em finanças.
Para quem é religioso: um grupo católico promove no dia 13 de cada mês o encontro do terço na casa de um morador. No mês de maio, conhecido pelos devotos de Nossa Senhora, o terço é diário.
Em se tratando de esportes, há as iniciativas de grupos grandes e dos pequenos. Creio, uma estimula a outra. Há os pequenos campeonatos de futebol society para os jovens, às segundas-feiras, e para os veteranos aos sábados. Chegam a durar até três meses. O condomínio apoia, assim como incentiva competições de partidas de tênis. Um grupo de senhoras não se fizeram de rogadas: sabendo que nas academias a moda é queimar calorias dançando zumba, trataram de buscar um professor para ensinar os movimentos duas vezes por semana. Para casais que queiram participar, há curso de dança de salão. Quem quer usar a piscina está prestes a comemorar a chegada de outra melhoria: o condomínio vai inaugurar o sistema de aquecimento. Claro, haverá comemoração. O bicicletário, considerado pequeno, está na lista de prioridades.
“Não sei dizer precisamente, mas reservamos um percentual para as atividades sociais e melhorias. Certamente, isso ajudou muito na relação entre os moradores e o resultado de todas gestões continuadas vem impactando na inadimplência”, comemora Rogério. A taxa de inadimplência do condomínio caiu. Chegou a 28% e hoje está em 9%. “Isso sem colocarmos ninguém na Justiça. Contratamos advogado, claro, mas conversamos entre nós mesmo, negociamos, mas essas atividades que promovemos ajudou na boa relação que foi mantida. Não foi a causa única do nosso resultado, mas foi uma delas, com certeza absoluta”, diz Rogério.
No Estação das Paineiras o condomínio custa R$ 1 mil. Sei que vai ter leitor a pontuar: mas o valor corresponde a um prédio de altíssimo padrão, beira-mar e com grande estrutura. É verdade. Pondera-se: o exemplo que vem dele está muito além da estrutura e da taxa. Nesse condomínio, há uma preocupação com a vida em sociedade, em grupo. Sim, há união, sobretudo, ainda que surjam divergências nas reuniões periódicas e que uma empresa de administração de condomínio cuide das pendências diárias. O que chama atenção e ajuda a máquina funcionar é o interesse em fazer em um prédio assim como se fazia antigamente, na rua da vovó. Isso, penso, pode ser copiado por qualquer edifício de Olinda, cidade vizinha do Recife, ou em qualquer vila da periferia das cidades metropolitanas.