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Cerimônia de entrega dos troféus do Emmy Awards foi marcada por discursos contra preconceito.

Fernanda Guerra (texto)
Valerie Macon/AFP (foto)

A ausência de atores negros entre os indicados ao Oscar gerou uma série de protestos, incluindo polêmicas nas redes sociais, boicote de cineastas como o diretor Spike Lee e a atriz Jada Pinkett Smith e críticas de artistas como George Clooney. A hegemonia branca foi inquietante. No caminho oposto ao #Oscarmuitobranco, hashtag que se popularizou como forma de protesto, a 68ª edição do Emmy Awards foi marcada pela representatividade racial, étnica e de orientação sexual.
A cerimônia realizada ontem, em Los Angeles, contou com 19% dos atores de diferentes etnias e discursos ativistas e premiou Game of thrones como Melhor Série Dramática e Veep como Melhor Série Cômica. A diversidade granhou protagonismo. Uma das indicadas a Melhor Série Cômica, Master of none foi um exemplo. Criada pelo asiático norte-americano Alan Yang e pelo descendente de indiano Aziz Ansari, a produção aborda a crise de imigração nos Estados Unidos e venceu como Melhor Roteiro de Série Cômica. “Pais asiáticos, deem câmeras a seus filhos em vez de violinos”, ressaltou Alan Yang. Entre as críticas disfarçadas de piadas, o apresentador da cerimônia, Jimmy Kimmel, ironizou a proposta de construção de muro na fronteira do México e Estados Unidos, defendida pelo candidato republicano à presidência norte-americana, Donald Trump.
Orange is the new black, na qual a diversidade sexual predomina, não foi indicada neste ano. Coube aos representantes de Transparent, série da Amazon com foco na transexualidade, levantar a bandeira em torno do assunto. A diretora Jill Soloway (foto) deu combustível ao tom ativista da cerimônia. “Quando dirijo, torno meus sonhos realidade. Quando a gente coloca mulheres, pessoas de cor e transgênero no centro da história, eles são sujeitos em vez de objetos. Eles mudam o mundo. Precisamos parar com a violência contra transgêneros”, enfatizou a diretora. Vencedor como Melhor Ator Cômico, o ator Jeffrey Tambor, intérprete da transexual Maura em sua transição, corroborou com o discurso. “Deem oportunidades e histórias a um talento transgênero”, suplicou, dirigindo-se a produtores e diretores da indústria. Em outro momento, Laverne Cox (Orange is the new black), primeira transexual a ganhar um Emmy, participou da cerimônia e reproduziu o pedido de Jeffrey Tambor. Ainda entre os vencedores, Louie Anderson venceu como ator coadjuvante cômico por Baskets, no qual interpreta a própria mãe.
A estreante American crime story: O povo contra O.J. Simpson (FX), segunda mais indicada e com seis prêmios, reconstrói o polêmico julgamento do jogador norte-americano acusado de assassinar a esposa, marcado por um debate racial intenso na década de 1990. No gênero de minissérie, venceu nas categorias Melhor Roteiro, Ator para Courtney B. Vance e Atriz para Sarah Paulson, além de Ator Coadjuvante para Sterling K. Brown, aplaudido de pé. Cuba Gooding Jr. foi indicado a melhor ator do gênero. No evento de anúncio dos indicados, a Academia de Artes e Ciências Televisivas já sinalizou a pluralidade. Além de ser concorrente a Melhor Ator de Comédia, o ator Anthony Anderson, do seriado Blackish, apresentou a lista dos indicados. Ele também foi o primeiro, ao lado da colega de elenco Tracee Ellis Ross, a abrir a série de premiações da noite. O seriado, por sinal, acompanha uma família negra norte-americana e expõe contrapontos entre brancos e negros, mas foge de estereótipos.
A diversidade se tornou mais evidente na edição deste ano, mas não é particularidade da 68ª edição. Em cerimônias anteriores, o Emmy já demonstrou ser menos excludente que o Oscar. Premiada no ano passado como Melhor Atriz, Viola Davis foi desbancada neste ano pela canadense Tatiana Maslany, protagonista de Orphan black que se desdobra em múltiplos personagens. Viola foi a primeira negra a ser premiada na categoria. Da trajetória do Emmy, a protagonista de How to get away with murder integra uma lista de mulheres negras indicadas que inclui nomes como Debbie Allen, Alfre Woodard, Cicely Tyson, Regina Taylor, Kerry Washington e Taraji P. Henson. O discurso do ano passado de Viola comoveu e permanece atual: “A única coisa que diferencia as mulheres negras de qualquer outra pessoa é a oportunidade. Você não pode ganhar um Emmy por papéis que simplesmente não existem”.