29-09

Com apenas três anos, garoto do Recife vive um drama: deixou de andar, comer e falar em três meses.

Silvia Bessa (texto)
Álbum de família (foto)

Nunca se sabe se ou quando a vida dará uma volta longa e ficará mais dura. E para onde seremos levados após o giro, caso ele lhe surpreenda. Para o menino Weberton dos Santos, o Bebeto, a jornada estava se iniciando. Parecia leve e promissora, previsível para a pouca idade dele, até março deste ano. Ali Weberton foi infortunado pelo destino. Tinha três anos. As noites traiçoeiras de Bebeto se seguiram no pequeno intervalo de três meses. Logo, em junho, a vida já estava virada ao avesso. Aquele que corria, ria e tagarelava fez-se outra criança. O pescoço lentamente começou a não sustentar mais o peso da cabeça. As pernas dele ficaram sem forças para correr. Não puderam mais sequer erguê-lo. A voz de Bebeto foi silenciada para os questionamentos típicos da idade e a boca deixou de provar balas. Por fim, os olhos cegaram. A cruz pesada foi.
Ele mantém-se com a audição e respira. Respiremos, nós. A explicação para a pausa: este texto não se propõe a ser a banalização do drama humano. Apela em nome de uma família que luta pelo tratamento digno para um filho com doença grave e ainda desconhecida. Ela, que faz com que a cada vinte segundos Bebeto tenha uma espécie de crise epiléptica, um espasmo. “Os exames dão conta de que é um mal epilético, mas não se sabe qual porque não há nada errado no corpo que justifique até então. Nenhum exame mostrou nada até agora. Tudo tem acontecido muito rápido”, contou ontem a mãe de Bebeto, Nataly Wanessa dos Santos, 23 anos.
Do bairro do Curado, no Recife, Nataly deixou o emprego de vendedora. Após entrar e sair de hospitais locais e Unidades de Terapia Intensiva por mais de dois meses intercaladamente, foi com “cara e a coragem”, doação de conhecidos e o companheirismo da avó Suely para o Rio de Janeiro para tentar achar especialista que explicasse o que se passa com o filho. Está lá em um quitinete alugado provisoriamente desde o dia 1º de setembro (volta dia 5 próximo). Ontem pagou um exame que custou R$ 3.990. Segundo médicos a informaram, na rede pública esperaria seis meses para ser realizado. “Não tínhamos tempo”. O marido de Nataly está desempregado e cuida com a ajuda da mãe dele do outro filho do casal, de seis anos.
No Recife, cogitaram de tudo: que Bebeto era vítima de Chicungunya, de problemas intestinais. “Teve um dia que ele só chorava. Aí, disseram que era garganta inflamada”, lembra a mãe. Mandaram dar um antibiótico bastante conhecido usado para combater infecções. Foi liberado. Cinco dias depois não falava mais. Até que aventaram epilepsia. Desenganaram e disseram que não tinha o que fazer. Nataly não se contentou. Descobriu um especialista em epilepsia e correu para buscá-lo, o neuropediatra Eduardo Sá Campello Faveret e foi ele quem recomendou o pedido de painel genético. Daqui a dois meses sairá o resultado, mas o especialista já avisou: a depender, pode precisar de outro exame caro, o Exome, que sequencia DNAs e custa R$ 6 mil.
Bebeto hoje tem tomado seis medicamentos, sendo dois deles derivados da maconha, para aliviar dores e sintomas. A família gasta cerca de R$ 4 mil por mês para dar algum conforto a ele. A maior parte do tempo o menino é transportado no colo porque a cadeira que ele ganhou de um doador é maior que seu corpo de 13 quilos e não é adequada para sua condição física atual – sem sustentação. “É tudo caro e estamos sem condição porque nós dois agora estamos sem emprego”, diz Nataly, referindo-se ao marido. “O pior é que nem diagnóstico tem. Ele não faz nada, mas ouve e entende tudo e todos os dias eu digo no ouvido dele que ele tem de ter força e nos ajudar a ter forças”, balbucia a mãe.
Todo sinal de vida de Bebeto serve de alento. O último veio do acaso. A avó Suely recebeu uma mensagem de celular com o som de uma música do cantor Wesley Safadão, o ídolo do menino Bebeto. Ele ouviu e sorriu. “Agora usamos a música de Wesley para acalmá-lo”, conta Nataly, que guarda todo tipo de esperança. A história de Bebeto vem criando uma rede de ajuda que se organizou para arrecadar fundos para o tratamento e medicações. Quem quiser ajudar Bebeto e família pode depositar qualquer valor nesta conta abaixo: Agência da Caixa Econômica Federal: 0678, Conta Poupança: 00041374-6, Operação 013, CPF: 041.947.874-47, em nome de Suely Luz dos Santos, a avó de Weberton.