30-09

Homicídios, agressões físicas e ataques a bens de candidatos refletem o crescimento da insegurança no país.

Luce Pereira (texto)
Silvino (arte)

A saúde política do país nunca andou tão debilitada e um dos maiores reflexos disto está no faroeste em que se transformaram as disputas pelos cargos de prefeito e vereador, em jogo no próximo domingo. Desde que as ações de campanha ganharam as ruas e candidatos iniciaram o corpo a corpo com eleitores, o perigo de se virem alvos de atentados aumentou sensivelmente, bem como o patrimônio de cada um. Não há qualquer exagero em dizer que esta deve terminar como uma das eleições mais violentas das últimas duas décadas, com saldo surpreendente de vítimas e danos. Pelas contas da imprensa nacional, pelo menos 15 candidatos ou pessoas ligadas a eles foram mortos, neste período, só no Rio de Janeiro, embora tenha sido a última quarta-feira, especialmente, a chamar a atenção do país para o vale-tudo pelo poder. Durante carreata pelas ruas de Itumbiara (GO), José Gomes Rocha, que disputava pelo PTB a prefeitura do município, fol alvejado e não resistiu. Do atentado ainda saíram feridos o vice-governador do estado, José Eliton (PSDB), e o advogado Célio Rezende. No mesmo dia, por pouco o candidato a prefeito de Santa Cecília (SC) João Rodoger de Medeiros (PSB) também não foi morto: três balas atingiram o veículo em que estava. Milagrosamente, não se feriu.
Lamentos traduzidos em notas de repúdio e declarações existiram, como foi o caso do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Gilmar Mendes – que pediu para a PF ficar à frente do caso envolvendo a morte de Rocha – e do ministro da Defesa, Raul Jungmann. Mas nada que intimidasse ou sensibilizasse os criminosos. Enquanto Jungmann prometia a presença de 25 mil homens para garantir tranquilidade nos locais de votação, próximo domingo, a crônica de violência era engordada por novas tentativas. Um levantamento feito pelo jornal O Globo mostra que em pelo menos 12 unidades da Federação houve registros de crimes contra os candidatos, carros ou casas deles. Em Pernambuco, que historicamente aparece como estado de “sangue quente” quando o assunto é política, bate-boca seguido de agressão física envolveu o candidato petista João Paulo e, ontem, tiros atingiram a residência do candidato à reeleição em Camutanga, Armando Pimentel (PSB), na primeira hora da manhã. Ninguém ficou ferido, mas a ocorrência serviu para reafirmar a disposição dos criminosos em seguir causando estragos.
Um nível tão alto de animosidade na disputa eleitoral sugere que o Brasil vem mergulhando a cada dia mais na insegurança, como se os criminosos se sentissem confiantes e reconfortados pela certeza de uma impunidade ainda maior. A propósito, insegurança que o cidadão comum passou a sentir com maior veemência no dia a dia, depois de o país ter enfrentado os mares mais revoltosos na economia e na política, cujos reflexos continuam a ser sentidos em todos os segmentos da vida nacional. Significa que a falta de clareza sobre o futuro e a indiscutível onda de ultra conservadorismo em segmentos e grupos influentes acende um alerta quanto à possibilidade de um velho e pessimista prognóstico – o pior está por vir – ganhar força.
Em tese, não seriam as atuais eleições responsáveis pelos níveis de violência que passaram a marcar as campanhas políticas, mas a própria insegurança no dia a dia no país, a que tira do cidadão, se não o direito de ir e vir, o gosto por exercê-lo. Com esta área do governo passando frequentemente recibos sobre a incapacidade de apresentar soluções a curto prazo para deixar a população menos sobressaltada e apavorada, criminosos ampliam seus domínios e a crença em que fazem e não pagam. Tempos difíceis. Como domingo a sorte já estará lançada, a apreensão maior deve girar em torno das próximas 48 horas. Sobre isso, é pouco provável que o esquema imaginado pelo governo consiga reduzir os riscos de ocorrência de novos estragos ou vítimas. Como disse o ministro Jungmann, são casos de polícia, não dizem respeito às forças de segurança que estarão nas ruas.