03-10

Resultados mostram que população quis derrotar os petistas, mas não escolheu um algoz preferencial.

Vandeck Santiago (texto)
Paulo Paiva (foto)

As eleições municipais de ontem em todo o Brasil mostraram que o PT pagou a conta da crise. Parte do débito também caiu sobre as costas do seu maior aliado, o PCdoB, que teve derrotas marcantes no Rio de Janeiro e Olinda. O resultado era mais ou menos esperado, dado o desgaste contínuo sofrido pelo PT nos últimos dois anos, a partir sobretudo das investigações e prisões decorrentes da Operação Lava-Jato. Mas quando ele se traduz em dados visualizáveis, com a identificação dos nomes (Fernando Haddad, Raul Pont etc.) e o tamanho dos insucessos, sempre causa impacto.
Esta é uma fotografia que se pode tirar das eleições.
Não a única, porém.
Outra fotografia igualmente reveladora é que embora esteja muito claro quem foi o derrotado, a mesma clareza não se tem quando se tenta visualizar o vencedor – por um motivo simples: não houve um grande vencedor. Quero dizer: os votos que derrotaram o PT não se destinaram a uma força específica.
Vamos pegar os nomes nacionais mais identificados como contrários ao PT. Aécio Neves, por exemplo. O candidato que ele indicou para disputar a prefeitura de Belo Horizonte foi para o segundo turno, numa disputa apertada. Vejamos Michel Temer e o PMDB. O partido não foi sequer para o segundo turno no Rio e em São Paulo, maiores vitrines do país, apesar de ter entrado nas duas disputas com chances de vitória. No caso de São Paulo, onde a candidata peemedebista foi Marta Suplicy, convém destacar que ela também teve apoio de um cacique tucano, José Serra.
Como exceção que confirma a regra, temos o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que bancou a inusitada candidatura de João Dória e conquistou uma vitória histórica, no primeiro turno, colocando para trás a única estrela do PT que hoje tem cara de renovação, Fernando Haddad. Alckmin é o único nome dos tucanos que vem escapando dos desgastes da radicalização política. E agora, com a vitória na capital, é o nome do PSDB que se impõe como candidato a presidente em 2018 (pode até não ser o indicado, mas será difícil afastá-lo).
Neste cenário nacional, como se inclui a eleição do Recife? Como algo à parte, uma aldeia gaulesa em um mundo de romanos, se vocês me permitirem uma referência a Asterix. Se queria apresentar-se pela segunda vez como “a novidade” da campanha, Daniel Coelho (PSDB) deveria ter cultivado seu mandato de deputado federal neste objetivo, além de nos conflitos e debates locais ter buscado um protagonismo que casasse com a imagem de “novo” ou de “alternativa” que ele tentou construir. Já para João Paulo (PT) a ida para um segundo turno é uma conquista que se destaca no mar de insucesso dos colegas do seu partido por todo o país – é o único petista no segundo turno de uma capital nordestina. Tem pela frente um grande desafio, dada a vantagem alcançada pelo prefeito Geraldo Julio (PSB). Os votos de Priscila Krause (DEM) são mais ideologizados, mas os de Daniel Coelho não são necessariamente antipetistas. São votos muito mais dele, Daniel, do que do seu partido, PSDB. João Paulo precisaria capturar boa parte desses votos e também conseguir a migração de outros do próprio Geraldo Julio.
O prefeito que tenta a reeleição passou por sua primeira grande prova – disputar um pleito sem a presença de Eduardo Campos, principal responsável por sua vitória, há quatro anos. Pode-se dizer que ele sai da prova com o atestado de que é capaz de caminhar com as próprias pernas. Se vencer, automaticamente se credencia a voos mais altos. Por muito pouco não levou no primeiro turno – e a essa altura sua campanha deve estar se perguntando se faltou dar mais carga para tentar liquidar logo a eleição, ou se toda a carga foi dada e o percentual obtido foi o teto possível.
Agora teremos mais quatro semanas até o segundo turno, em 30 de outubro. Às vezes o segundo turno é outra eleição, às vezes é só uma ratificação do primeiro. Mas esse é o tipo de coisa que só se vê com nitidez após a contagem dos votos.