O 6 de novembro é considerado Dia Nacional do Riso, assunto dos mais apreciados pelos brasileiros.
Luce Pereira (texto)
Silvino (arte)
Não há quem não queira estar perto de pessoas bem-humoradas, que tiram tudo por menos e arrematam qualquer assunto ratificando o sentido de viver em nome da leveza e da alegria. Entre elas, a ideia é pegar a felicidade pelo braço e sair por aí, não brigar para ter razão sempre. Bom humor faz toda a diferença, sim, e então o sorriso se viu transformado, ao longo do tempo, numa expressão tão poderosa que ganhou até um dia nacional destinado a celebrá-lo – hoje. Se poucos sabem que a data existe, raros devem ser aqueles interessados em conhecer o assunto amiúde, como fazem pesquisadores da área de psicologia cognitivo comportamental de renomadas instituições ao redor do mundo. Há até uma ciência que se dedica a estudar os benefícios do ato de sorrir para a saúde – que, diga-se, são enormes: chama-se gelontologia e seus proponentes acreditam tanto neste poder que muitas vezes defendem a indução do gesto com fins terapêuticos. Para quem deseja se aprofundar nesta arte é bom já ir sabendo a origem da palavra – vem do grego “gelos” (riso), em homenagem a Ghelos, Deus do Riso.
Da Terra do Fogo até onde moram os esquimós do Norte, o mundo ri, o que faz crer que não se trata de uma expressão cultural, mas humana. No entanto, riso e felicidade são duas coisas bem diferentes, ao menos pelos critérios da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável, da ONU, que lançou, em março, a edição 2016 do ranking dos 158 países mais felizes do mundo, com base em índices de desenvolvimento econômico e social. Neste quesito, mesmo macambúzio como andou, o Brasil conseguiu avançar oito posições e ficou no 16º lugar. Suíça, Islândia, Dinamarca. Noruega e Canadá, por motivos óbvios, são os que mais riem de orelha a orelha, embora não sejam exatamente o tipo de povo lembrado pela alegria espontânea, nascida de estímulos que realmente causam prazer. Diferentemente, brasileiros riem por coisas e situações as mais banais, até mesmo dos próprios infortúnios, o que garante farta matéria-prima para o humor nacional, aquele que a televisão, o rádio e as redes sociais exploram a perder de vista. Apesar dos pesares, seguimos com a fama de povo alegre, aquele que brinca até quando garante que se pode perder o amigo, não a piada. Ri talvez porque, inconscientemente, leve a sério uma das famosas frases do inglês William Shakespeare – é mais fácil se obter o que se deseja com um sorriso do que à ponta da espada.
A questão é que, pela força transformadora – contagia, gera reações positivas, melhora a atmosfera de ambientes e relações -, o sorriso começou a ser estudado cientificamente desde o dia 1º de junho de 1900, quando virou artigo de autoria de George V.N. Deaborn, da Havard University, publicado na mundialmente respeitada revista Science. Dizia que o ato de sorrir vem de estímulos que causam prazer, e um século depois sabe-se que ele ajuda a liberar neurotransmissores como dopamina e serotonina em regiões do cérebro. Ou seja, faz bem em todos os sentidos – e é de graça. Daí porque se transformou em matéria-prima, também, para trabalhos como o da ONG Doutores da Alegria, que utiliza este tipo de recurso para ajudar na recuperação de crianças hospitalizadas.
E de riso em riso, mesmo quando o mar não está para peixe, a terra, que só no hino se acha “deitada eternamente em berço esplêndido”, chega a virar alvo de frases irônicas e célebres como a que foi (erroneamente) atribuída ao presidente francês Charles de Gaulle: “O Brasil é um país que não deve ser levado a sério”. A frase, sim, é que não deve merecer qualquer crédito, porque alegria nunca deveria ser confundida com descaso. Dessa e de tantas outras piadas rimos a valer, porque a natureza, ao menos nisso, foi muito generosa conosco. Não por acaso, hoje deveria ser considerado o “dia dos brasileiros”, essa gente que se acostumou a transformar limão em limonada, que acha a maior graça em rir até de si mesma.