12-11

 

Hermanos no balneário já são a maioria entre os visitantes internacionais, seguidos por uruguaios e portugueses.

Luce Pereira (texto)
Jarbas (arte)

No fim de outubro, uma amiga paulista quis reservar um hotel em Porto de Galinhas e, não sendo feriado, estranhou os preços das diárias. Achou salgados demais, embora esteja acostumada com tarifas indigestas, viajando frequentemente pelo Brasil. À época, tentamos encontrar uma razão plausível para a carestia nas reservas e nada pareceu muito lógico, exceto pelo fato de – hoje descobrimos – o balneário estar sofrendo uma invasão de turistas argentinos, a maioria atraída pelas facilidades de haver um voo direto e semanal entre o estado e Buenos Aires. Além disso, as atuais circunstâncias que permeiam a economia argentina, com melhor resposta ao remédio ministrado pelo governo de Maurício Macri. Parece até que sempre que o dinheiro e o emprego no Brasil andam curtos, as coisas se mostram melhores para o vizinho. Coincidência ou não, o fato é que há muito mais hermanos vindo para cá do que pernambucanos indo para lá e isto, em parte, poderia justificar um aquecimento nos preços da rede hoteleira.
Naturalmente, sempre que uma onda de turistas de determinado país ganha visibilidade, as pesquisas logo tratam de traduzir tudo em números. Neste caso, do total de estrangeiros que circularam neste ano pelo destino, 72% vieram do país vizinho, contra os 62% registrados em 2015, percentual já bastante expressivo. Diante de ocupação tão razoável, estima-se que a sexta-feira tenha sido de “lamentos portenhos” nos bares de Porto, em razão da derrota por 3×0 sofrida diante da seleção brasileira, no Mineirão, o que obrigou o capitão Lionel Messi a desistir da costumeira discrição e classificar, com um adjetivo nada elegante, o desempenho do seu time nesta 11ª rodada das eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo de 2018. Mas quem disse que os argentinos instalados no balneário andam atrás de rivalidades históricas no futebol, entre as duas seleções? Querem apenas sombra e água fresca – além, claro, de muito chope para tentar diminuir o calor, excessivo, diga-se.
Se em primeiro lugar no ranking estão os conterrâneos do polêmico (e talentoso) Diego Maradona, logo em seguida aparecem os rivais históricos deles, muito mais odiados quando insistem em dizer que o tango do coração dos portenhos – La cumparsita – foi composto por um uruguaio. Isso mesmo, em segundo lugar, entre os visitantes internacionais, vêm os conterrâneos do ex-presidente José Mujica (10%) e depois, os portugueses (5%). Estes últimos caíram tanto de encantos pela água, as areias e a estrutura do balneário que queriam não apenas vir fazer turismo, entre 2008 e 2012, como comprar imóveis. Nesta época, parecia perfeito o casamento entre a valorização do euro frente ao real e os preços praticados pelo mercado imobiliário em Pernambuco.
A questão é que, de acordo com a Associação dos Hotéis de Porto de Galinhas, os estrangeiros já respondem, neste ano, por 20% do total de turistas, um acréscimo de 6% em relação a 2015. E, Naturalmente, a rede hoteleira só falta estender tapete para recebê-los, pois foram os responsáveis por não deixar cair o nível de ocupação no balneário, festa que, no entanto, não se estende ao segmento de pousadas, cuja clientela vem do mercado nacional. Este – como todo mundo sabe e sente na pele – foi atingido pela crise econômica da qual o Brasil ainda tenta se livrar. E, claro, quando o cinto do país aperta, um dos setores mais atingidos é o de viagens, que cai na lista de prioridades da população.
As instituições de turismo no estado preparam, para 2017, novas ações de divulgação de Pernambuco em Buenos Aires e Montevidéu, porque, quanto mais gente hablando espanhol por aqui, melhor. Ao longo deste ano, Porto recebeu três encontros latino-americanos e, fazendo-se as contas, descobriu-se que, em média, estes turistas internacionais passam cinco noites no destino, geralmente com a família. Desafio continua sendo incluir o balneário na lista dos possíveis destinos para o Réveillon, porque o valor das tarifas dói mais do que o mais doído dos tangos.