Um candidato de centro-direita é favorito? Quem, pela centro-esquerda, ocupará o vácuo do PT?
Vandeck Santiago (texto)
Ricardo Fernandes (foto)
Qual o atributo que você, eleitor, definiria como fundamental para o candidato a presidente nas próximas eleições? A cada disputa majoritária, a resposta a esta pergunta tem forte impacto sobre o resultado, muitas vezes sendo fator decisivo para a vitória. Daí que para muitos partidos a escolha do candidato tem como ponto de partida identificar qual a principal característica que os eleitores esperam do próximo governante. Sabendo qual, lança-se o candidato que supostamente tem o perfil que o eleitor deseja para aquela eleição. O atributo considerado fundamental pelo eleitor não é sempre o mesmo; depende das circunstâncias. Pode ser honestidade. Competência. Disposição para trabalhar. “Não ser político”. Coragem para enfrentar “poderosos”. Preocupação com os mais pobres. Sinceridade. Etc. etc.
Que atributo o eleitor preferirá em 2018, não sabemos. Mas uma avaliação que toma corpo na política nacional é que um candidato com o perfil de centro-direita, encabeçando uma aliança de grandes partidos, entraria na disputa com fortes chances de ser o eleito. O sociólogo e cientista político Antonio Lavareda, especialista em eleições, defendeu essa tese, semana passada, durante debate na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). A ressalva que ele faz é que o nome com tal perfil deveria ser o candidato único das forças afinadas com tal espectro ideológico.
Um nome feito sob medida para este figurino de centro-direita é o do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSDB, partido que nas últimas eleições passou por uma mudança de perfil: as tinturas social-democráticas de Fernando Henrique, José Serra e Mários Covas, estão hoje esmaecidas, com o aparecimento de novas tonalidades, de feito conservador, que têm Alckmin e Aécio Neves como seus nomes de maior projeção.
Por mais crédito que se dê à avaliação de que um candidato de centro-direita partiria na frente na corrida da sucessão, é preciso considerar que estamos aí no terreno das projeções – sujeitas a variáveis decorrentes dos acontecimentos futuros. Por exemplo: caso saia não um, mas vários candidatos com este perfil, o caminho já ficaria embolado, causando dificuldades a todos (o próprio Lavareda alerta para esta hipótese).
Outro exemplo: não se sabe se Lula terá condições de ser candidato; e, em sendo, o efeito que isso terá na disputa.
É plausível supor, no entanto, que o PT ainda não pagou todo o preço pelo desgaste do governo Dilma Rousseff e sobretudo pelas implicações da Operação Lava-Jato. Chegará em 2018 ainda com faturas a pagar – ou seja, eleitoralmente debilitado (o que não quer dizer extinto). Processo semelhante já aconteceu com o PMDB: embalados pelo sucesso do Plano Cruzado, os peemedebistas elegeram 22 dos 23 governadores em 1986, e obtiveram vitórias esmagadoras também no Senado e na Câmara Federal. Logo em seguida o Plano Cruzado começou a fazer água, até o fracasso. Resultado: nas eleições seguintes, em 1988, o partido manteve apenas 4 das 19 prefeituras que tinha; viu a esquerda sair vitoriosa em 10 capitais e não teve como evitar o avanço de Lula e Leonel Brizola. Na disputa presidencial de 1989, o PMDB foi apenas uma pálida sombra do que fora três anos antes: seu candidato, Ulysses Guimarães, teve menos de 5% dos votos…
A sangria dos votos do PT deixa um vácuo que pode ser ocupado por um candidato de centro-esquerda, área onde hoje estão Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede Sustentabilidade). Na hipótese de Lula não ser candidato, imaginemos como os palanques de Ciro e Marina podem de repente tornar-se polos de atração para as forças contrárias a um (ou mais) candidato(s) de centro-direita…
Por diversas razões, o cenário atual lembra o de 1989, quando tivemos 22 candidatos à Presidência (todos os grandes partidos lançaram o seu). Naquele ano, enquanto as forças políticas tradicionais se engalfinhavam, cresceu a candidatura do novato Fernando Collor, que acabou sendo o eleito. A história não se repete, sabemos nós. Mas não custa nada ficarmos atentos.