Lojistas têm todo o interesse em antecipar a data, na tentativa de ver clientes invadidos pelo espírito de consumo.
Luce Pereira (texto)
Silvino/DP (arte)
De repente, as luzes do Natal se acendem nas cidades, as lojas começam a tocar aquela música que não deixa ninguém esquecer a cantora Simone, nesta época, e tem início a busca desvairada pelo lugar onde se vai passar o Réveillon, uma festa que pede distância dos indefectíveis caminhos percorridos pela rotina. Mas tudo isso anda acontecendo tão cedo que até causa certa confusão. Dezembro não é mais em dezembro, passa se ser vivido com um mês de antecedência e, fosse pelo desejo dos lojistas, Papai Noel já estaria dando “flashes” a partir da segunda quinzena de setembro, para quebrar o clima deixado pelo dia 7, quando não há nada melhor a fazer a não ser desligar a televisão e não ouvir nada sobre os enfadonhos e repetitivos desfiles cívicos.
“Então é Natal”, berra Simone. E a pouco mais de um mês da data, a cotação das duas moedas estrangeiras que de fato interessam continua mandando para longe os planos de viagem rumo a destinos do outro lado do mar. Retardatários, como se sabe, pagam preço alto pela indecisão e passam a sofrer o risco de ficar em casa mesmo ou, quando muito, ir de branco para a beira da praia mais movimentada da cidade, brindar a Virada com champanhe quente e dando os abraços mais previsíveis de todos os 365 dias. Excetuando-se o fato de este ano o país viver uma espécie de Halloween fora de época, com monstros e zumbis sem dar o menor sinal de querer sair de cena, brasileiros não aprendem a se planejar para usufruir mais e melhor dos feriados – que não são poucos nem pequenos. Ainda não estão convencidos, por exemplo, de que alugar apartamentos e casas pode ser a melhor relação custo/benefício, desde que pesquisados com certa antecedência. Existem sites muito confiáveis, que fazem a negociação em um piscar de olhos, sem nada de complicação.
Só para não perder o fio de meada, em agosto estive na Europa, com um grupo de amigos, e repeti a experiência de hospedagem em apartamentos, que já havia vivido nos Estados Unidos. O resultado é que, tanto em Paris quanto em Viena, a escolha não poderia ter sido mais acertada. Os locatários se comportaram decentemente, cumprindo o que anunciaram, e o serviço só subiu no meu conceito: ótima localização, conforto, segurança, tudo à mão e, claro, por um preço muito honesto. No entanto, todo o cenário de facilidades muda nas altas temporadas, por causa da lei da oferta e da procura, o que exige planejamento, foco e, sobretudo, pressa. Como já disse, nascemos desprovidos dela quando o assunto é lazer, diferentemente de moradores das partes mais desenvolvidas do planeta – e o que resulta disso? Frustração.
Sem acelerar o passo, fica difícil até encontrar vagas para as festas natalinas em lugares próximos como Garanhuns (Agreste), que decidiu apostar e investir na realização de um Natal-luz, cuja decoração tem merecido os maiores e melhores elogios. Garanhuns é daqueles municípios diferenciados, no interior, que acreditam na cultura e no turismo como estandartes do seu crescimento – e só por isso já merece aplausos. Lá, com tudo já sob as bênçãos do “bom velhinho”, nada lembra que ainda estamos a doze dias do término de novembro.