14-12-2

 

Maior líder espiritual indiano da atualidade, Sri Sri Ravi Shankar estará pela primeira vez no Recife amanhã.

Luce Pereira (texto)
Arte de Viver/Divulgação (foto)

A expressão do rosto é terna, os gestos são brandos e os olhos escondem uma alegria quase infantil. Mas é um estereótipo achar que famosos gurus espirituais indianos levam uma vida de contemplação, cuidando da saúde emocional de milhões de devotos apenas se juntando a eles para, depois de entoar belos mantras, dividirem uma comidinha frugal. Nada disso. Pode-se dizer que Sri Sri Ravi Shankar – o mais popular entre todos, hoje – mora no mundo, embora oficialmente viva na cidade de Bangalore (Sul da Índia) onde mantém o seu grande Ashram de impressionantes 40 hectares. A agenda é tão apertada que nesta viagem ao Brasil – a sétima, como parte do giro por alguns países da América Latina – só vai passar um dia em cada cidade: Recife (15, amanhã, 19h30, Classic Hall), Salvador (16) e Rio de Janeiro (17). Mas ele simplesmente dá conta e não demonstra o menor sinal de cansaço. O segredo? Paixão pela paz.
O Sri Sri – que quer dizer honorífico – tem somente 60 anos (Papanasam, 13 de maio de 1956), mas uma obra com a saúde de séculos. No começo da década de 1980, criou a instituição humanitária Arte de Viver, presente em mais de 150 países e sustentada por uma rede de voluntários que reflete o tamanho do empreendimento e a fé no que mais defende: uma sociedade sem estresse e violência, curada por técnicas de respiração poderosas, meditação e yoga. Para não dizerem que falo sobre o que jamais vi ao menos de perto, participei, nesta semana, do Happiness Program ministrado pelos argentinos Roberto Rosua e Ramiro Mora e o brasileiro Alexandre Lopes, na unidade Rua da Guia (Bairro do Recife) da Arte de Viver. De fato, é possível sentir claramente os benefícios das técnicas aplicadas e os frutos das reflexões que permeiam as práticas. No fundo da sala, o Guruji, como Ravi Shankar é carinhosamente chamado pelos seguidores, ri serenamente em uma foto, parecendo se divertir com as transformações operadas nos participantes. Aquilo significa uma celebração da vida.
Afinal, é bem com este espírito que o guru indiano tornou-se um nome associado à alegria e à paz. Menino prodígio, naturalmente, aos quatro anos já era visto meditando e chegava a recitar partes do Bhagavad Gita, a antiga escritura em sânscrito. Tendo como professor Sudhakar Chaturvedi, que durante muito tempo colaborou com Mahatma Gandhi, graduou-se em Literatura Védica e Física, aos 17 anos, em 1973. Mas foi a palavra, a obra social e a presença em lugares onde conflitos, catástrofes naturais e obstrução do diálogo predominam que atraíram até ele multidões incalculáveis. Recentemente, trabalhou pela reaproximação entre as Farc e o governo da Colômbia, participando da mesa de negociações entre os dois lados, numa reunião em Cuba, e voluntários que o acompanhavam na viagem ainda hoje se dizem impressionados com a capacidade de convencimento. É a força do amor e da compaixão, tão naturais nele, dizem.
Aqui, além dos projetos para a criação de líderes jovens em comunidades carentes, a Arte de Viver vai até a população de presidiários através do programa Prision SMART, em busca de reduzir os níveis de violência e resgatar a auto-estima dos detentos através da filosofia e das práticas criadas pelo Guruji. Quem acompanha o trabalho, se emociona e atesta transformações que só seriam imagináveis a partir de políticas públicas sérias e eficientes de reeducação deste público. Se elas existissem, claro.
Por uma questão de agenda, o também autor de 13 livros sobre como se chegar a uma vida mais plena, não vai conhecer os frutos do trabalho desenvolvido aqui, pela rede de voluntários, mas deve imaginar os reflexos do conjunto de sua obra no encontro de amanhã, no Classic Hall, a partir das 19h30 (ingressos à venda em várias lojas). Estima-se que falará para uma multidão como aquelas a que se acostumou a encontrar mundo afora, e por um motivo muito simples – o planeta anda carente de vozes que falem ao coração e assegurem que a paz é, antes de tudo, uma decisão pessoal.