Treze meses. Durante todo este período – por coincidência, o tempo de gestação de um bebê camelo – processei o tema de Israel e os palestinos pensando na publicação de um caderno especial no Diario de Pernambuco.
Durante três semanas, entre novembro e dezembro de 2015, estive na Terra Santa participando do curso “Jornalismo em zona de conflito”, realizado pela Histradut, a federação dos trabalhadores de Israel, com o apoio do Ministério das Relações Exteriores daquele país.
Éramos 26 “periodistas” latino-americanos que, em 18 dias, tivemos horas e horas de conversas com professores renomados das universidades de Tel Aviv e de Jerusalém a respeito dos conflitos entre Israel e Palestina, a ameaça do Estado Islâmico e os interesses de Irã e Rússia na região.
Especialistas que participaram das negociações fracassadas de paz entre israelenses e palestinos afirmaram que somente uma nova geração de líderes dos dois lados pode derrubar os muros e começar a construir dois estados para dois povos, lado a lado.
Visitamos zonas de fronteiras, kibtuzim, lugares históricos, o Knesset, com a liberdade de perguntar sobre tudo. Uma experiência fantástica proporcionada pela Federação Israelita de Pernambuco, que contribuiu com as passagens aéreas.
Mas Israel estava fora do noticiário internacional em 2016. Estado Islâmico, Síria, atentados na Europa mereciam prioridade no dia a dia. Caderno especial? Não era o momento. Agora, com Trump no poder, a hora chegou. E o caderno finalmente saiu neste 23 de janeiro de 2017, um dia depois do governo israelense aprovar dezenas de assentamentos em território palestino.
A Terra Santa vai monopolizar o noticiário em 2017. Haverá conflito armado com a decisão do novo presidente dos Estados Unidos em declarar que Jerusalém pertence unicamente a Israel? Com a perda de espaço do Estado Islâmico e a iminente derrota dos revoltosos na Síria, os palestinos podem voltar a ter apoio de milícias que lhes voltaram as costas nos últimos seis anos.
Atingir Israel vai ser como atingir a Trump. Neste conflito no Oriente Médio não é possível declarar um lado vencedor. Os argumentos sobre a posse da terra se apoiam em questões religiosas. Durante minha permanência em Israel, não esqueço o olhar dos palestinos que trabalhavam no alojamento onde permanecemos, gente da limpeza e da cozinha. Um povo não pode pagar uma pena tão pesada por um punhado de extremistas.
As seis páginas deste caderno especial foram poucas para abordar tantos assuntos. Nestes treze meses, mergulhei no assunto Israel de todas as maneiras, através de livros e documentários. Recém-lançado no Brasil, o livro “Minha terra prometida – O triunfo e a tragédia de Israel”, do jornalista Ari Shavit, é o mais recomendado para se conhecer um país pequeno, de tantas conquistas e tantos desafios.
Os israelenses costumam dizer que quem visita o país sai mais confuso do que quando chegou. Tinha uma missão como jornalista. E se estou lhe confundindo, desta vez é para lhe explicar (gracias, Tom Zé).
No mais, shalom/salaam, porque unanimidade, neste caso, é impossível.
OBS: com exceção da fantástica foto da capa, que é da AFP, e dos destaques de livros e depoimentos, todas as imagens são de autoria deste que vos escreve.