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Antes da chegada do asfalto e dos trilhos à Zona Sul, fazendo com que os recifenses invadissem o Pina e Boa Viagem para mergulhos sem a presença de tubarões, a alternativa para os “banhos salgados”, considerados terapêuticos, consistia na Praia do Brum. A faixa de areia nas proximidades do Forte de São João Batista do Brum marcava o limite entre o Recife e Olinda. Era lá que as famílias, em trajes bem comportados e pesados, enfrentavam as ondas em nome da saúde.

Desde o início da década de 1860 o Diario de Pernambuco trazia notas sobre este novo hábito praticado na Praia do Brum, local que frequentava bastante o noticiário pelo aparecimento de cadáveres e naufrágios. Em 3 de outubro de 1877, o jornal trazia anúncio de aluguel de casas para os interessados em “banhos salgados”. A vantagem era de que se iria ficar a meia dúzia de passos da água.

Já no início do século 20, com a consolidação das linhas de bondes, a reclamação era de que a Ferro Carril, administradora do serviço, não estava colocando carros suficientes para os banhistas, que reclamavam dos atrasos da composição da Boa Vista. No dia 30 de janeiro de 1903, o Diario apontava que famílias que esperavam na Praça Maciel Pinheiro tinham que viajar em pé, o equivalente aos ônibus lotados de hoje.

Havia uma certa infraestrutura na praia. Banheiros de madeira permitiam que os frequentadores trocassem de roupa, mas o Brum estava se tornando reduto de gatunos. O Diario registra casos de “arrastões”, com a prisão de malfeitores conhecidos na área, como Antonio Carne de Porco e Luiz Cara de Ferro.

Mas estava chegando o fim da Praia do Brum como balneário. No dia 28 de outubro de 1924, o Diario de Pernambuco publicou artigo intitulado “A avenida Beira-mar”, elogiando a abertura do acesso para Boa Viagem, colocando o Recife no mesmo patamar de Santos e Rio de Janeiro, cidades que tiraram proveito de sua orla.

“Recife, a que não falta quem chame de Veneza Americana, realmente prestigiada pela vizinhança do Atlântico, não possuía, até agora, uma avenida, um passeio, uma rua pelo menos, à beira-mar. Ao contrário. Os velhos sobrados, na orla do cais; desde o Brum até a ponta da Rua de Santa Rita Nova sempre deram, irreverentemente, as costas para o mar”, afirmava o texto, sem identificação do autor.

“A Praia do Brum, não obstante ter estado a dois minutos dos velhos bondes da Ferro Carril, nunca deixou de ser um litoral ermo e abandonado. Isto, aliás, até certo ponto se explicava, tratando-se do Recife de outrora”. Em outubro de 1925, o Diario comemorou a abertura da Avenida Boa Viagem. O Brum ficou no passado, como este cartão-postal mostrando os seus pescadores, da coleção Josebias Bandeira, pertencente à Fundação Joaquim Nabuco.

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