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Impressos na Inglaterra, sem registro de data, mas possivelmente da década de 1900, dois cartões-postais que pertencem hoje à coleção Josebias Bandeira, da Fundação Joaquim Nabuco, apresentam um detalhe curioso na chegada dos passageiros de navios no Porto do Recife no início do século 20. Bem trajados, os viajantes viviam uma pequena aventura antes de chegar em terra firme. Tinham que entrar em uma espécie de “gaiola” de pano para chegar até uma embarcação menor. Eram levados ao cais da Lingueta e, de lá, à Praça Rio Branco, hoje transformada no Marco Zero.

A manobra do guindaste pelos marujos experimentados era acompanhada por uma pequena plateia na embarcação e também no cais, onde os curiosos sempre esperavam que um “engomadinho” tomasse um banho inesperado. Dentro da cesta gigante, os passageiros se chocavam uns com os outros, uma situação aproveitada pelos mais ousados para um contato físico maior com alguém do sexo oposto.
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Antes do período de reforma do porto, iniciada em 1911 e concluída em 1923, os navios de maior calado tinham que fundear fora da barra, numa área chamada de “lamarão”, termo que aparece pela primeira vez em 1579, quando uma flotilha, comandada por Frutuoso Barbosa, capitão-Mor da conquista da Paraíba, surgiu em Pernambuco e fundeou no referido local.

O “lamarão” compreendia uma área retangular de aproximadamente 12 quilômetros de comprimento por dois quilômetros de largura da plataforma interna, defronte ao Porto do Recife, com profundidade variando entre 10 metros e 25 metros, cujo fundo é arenoso, com pequenos bolsões de lama, alguns afloramentos rochosos e arrecifes submersos (informação recolhida do estudo “Arqueologia da paisagem”, de Carlos Rios e Valdeci dos Santos Júnior).
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Os navios acima de 25 pés ficavam fundeados nas “Laminhas”, ficando os botes, escaleres, canoas, jangadas e barcaças responsáveis pelo transbordo de cargas e pessoas para terra. Depois de 1923, o desembarque já podia ser feito em terra firme. O espetáculo do “lameirão” ficou no passado.

No dia 24 de fevereiro de 1950, o Diario de Pernambuco abriu uma página para destacar que o Porto do Recife finalmente poderia receber navios de grande calado. O transatlântico Alcantara, da Royal Mail Lines, acostou no armazém 3 das docas e 35 passageiros desembarcaram através de pranchas produzidas nas próprias oficinas do porto.
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No dia 8 de dezembro de 1950, o Diario publicou um artigo da professora Angeline Ladevese, intitulado “Há 40 anos!”, onde ela conta o seu inesquecível desembarque no Porto do Recife no dia da festa de Nossa Senhora da Conceição, em 1910.
“Estavam começando a construção do porto e os grandes vapores de passageiros ficavam bastante longe, sendo necessário tomar uma alvarenga em alto-mar para chegar à antiga Alfândega, instalada sobre um estrado de tábuas mal juntas, onde era bem difícil andar. A chegada a Pernambuco apavorava os mais valentes, pois acontecia com o movimento das ondas enormes que sempre há na entrada do porto, a alvarenga desencostava do paquete e o cesto em que desciam os viajantes caía n’água, onde viam-se numerosos tubarões. Subiam de novo o rudimentário elevador com o guindaste e, no mau tempo, renovava-se a manobra duas ou três vezes até acertar a descida do cesto sobre a alvarenga”.