Em 1832, ela já era citada no Diario de Pernambuco como a sede da sua tipografia, funcionando na casa de numeração D1. Localizada no bairro de Santo Antônio, seguindo a margem do Rio Capibaribe da Ponte da Boa Vista até a Ponte Princesa Isabel, a Rua do Sol recebeu esta denominação poética por ser iluminada pelo astro-rei na maior parte do dia, o contraponto para a rua da outra margem, a da Aurora. O poder público já tentou roubar-lhe o nome, batizando-a primeiro como Cais do Machado, depois como Rua Dr. Ivo Miquelino (1884) e então como Rua Major Codiceira (1918). Mas, para o recifense, será sempre a Rua do Sol.
Hoje um trecho desolado, dominado pelo asfalto e por prédios que não estão mais voltados para o rio, a Rua do Sol já foi cheia de vida, uma das mais movimentadas do Centro, quando o Recife passou por reformas urbanas no sentido de ficar mais com cara de Europa, ainda na primeira metade do século 19. A urbanização levava em conta o Capibaribe como eixo principal, sendo foram construídos nas suas margens, o palácio do Governo, a Casa de Detenção (hoje Casa da Cultura) e o teatro de Santa Isabel, além de passeios públicos, praças e jardins ribeirinhos, incluindo alguns trechos das ruas da Aurora e do Sol.
Segundo a arquiteta Vera Mayrinck Melo, autora do trabalho “As paisagens do Rio Capibaribe no século 19 e suas representações”, o engenheiro francês Louis Léger Vauthier, ao chegar ao Recife em 1840, declarou-se encantado com as “margens do Capibaribe, agrestes e belas”. A Rua do Sol, que era um excelente ponto para passeios, tornou-se em 1867 um dos pontos de embarque do novo serviço de transporte oferecido pela companhia inglesa Brazilian Street Railway Companny Limited, mais conhecida como Companhia da Caxangá. A maxambomba – corruptela de machine pump – partia para o subúrbio a partir do largo do Teatro Santa Isabel. Na Rua do Sol funcionava o serviço que levava bagagens mais volumosas.
Na segunda década do século 20, a Rua do Sol apresentava um charmoso cais, com passeio público e casarões onde residentes, trabalhadores de escritórios e prostitutas “nacionais e importadas”, segundo Diario, conviviam diariamente. Era palco também de pequenos dramas pessoais, como o relatado pelo jornal de 15 de maio de 1919. Era a história do suicídio de Epaminondas Santos, que se atirou no Rio Capibaribe trajando roupa de casemira preta, “aparentando estar de luto”. Deixou no chapéu a importância de 2$200 para ser entregue a um pobre aleijado.
A coleção Josebias Bandeira, da Fundação Joaquim Nabuco, dispõe de seis imagens mostrando a transformação da via. Os cartões-postais apresentam diferentes aspectos, desde a época sem calçamento e como ancoradouro para barcaças de cal até o seu formato mais atual, quando o asfalto tomou o lugar dos jardins e bancos públicos. O bonde deu lugar ao carro. Só o Sol continua o mesmo.