Há quase 75 anos, a Praia de Boa Viagem seria o cenário de um desastre aéreo que colocaria o Recife no mapa da Segunda Guerra Mundial. No dia 23 de julho de 1942, o carioca Artur Osvaldo Cesar de Andrade, primeiro-tenente aos 25 anos de idade, despencaria com o seu Curtiss P-40 Warhawk na água a cerca de 500 metros da faixa de areia. Segundo um menino que estava no mar, a aeronave caiu em “parafuso”.
Considerado um dos mais preparados integrantes da recém-criada Força Aérea Brasileira, ele se tornou o primeiro piloto brasileiro morto em missão de guerra. Treinava para patrulhar a costa nordestina contra possíveis ataques de submarinos alemães e italianos. Esta triste primazia foi notícia no Diario de Pernambuco. Passados os anos, tanto o acidente quanto o nome de Artur sumiram da história. Na internet, a busca não revela resultados, principalmente da imagem do herói que não queria ter sido.
Com uma base instalada próxima ao aeroporto internacional dos Guararapes, a FAB operava no Recife com uma esquadrilha de cinco aviões P-40. Pelo formato das aeronaves, equipadas com motor tipo Allison, de 12 cilindros, eram chamadas de “Tigres Voadores”. Artur César pilotava o de número 5. Às 13 do dia 23 de julho de 1942, partiu para o treinamento de acrobacias. Meia hora depois, caiu no mar. O “parafuso”, principalmente o de três voltas, era justamente a manobra proibida para o P-40. O que teria acontecido a bordo? Duas semanas mais tarde, ele partiria para treinamento nos Estados Unidos. Seria um “ás” brasileiro nas batalhas aéreas contra as forças do Eixo.
Em 1937, Artur começou a trabalhar em um banco na capital do país, no Rio de Janeiro. Abandonou o emprego para se inscrever no quadro de pilotos da Reserva da Aviação Naval. Dois anos mais tarde, recebia o brevê e se distinguia tanto no curso que é imediatamente designado para ser instrutor no aeroclube de Santos, ao qual serviu até 1941.
O ano de 1943 prometia ser decisivo para Artur. Em janeiro, foi convocado para servir no Nordeste. Fez dois cursos de pilotagem de caça e bombardeiro e deveria seguir para os Estados Unidos fazer aperfeiçoamento como o primeiro piloto da FAB a conduzir um “monoplace” de caça. Nada mal para quem conseguiu vencer a resistência do pai, que queria vê-lo engenheiro. O sonho de ser piloto fez superar obstáculos: por conta de uma queda de avião anterior, havia fraturado nariz, maxilar, ossos da face, mas voltou ao cockpit depois da dolorosa recuperação.
Com quartel-general no Recife e jurisdição sobre o Nordeste, onde se situavam as bases aéreas do Recife, Salvador, Natal e Fortaleza, a 2ª Zona Aérea tinha a missão de defender a costa nordestina contra uma possível invasão naquela região das Américas. Depois da entrada do Brasil na guerra, passou a integrar a Força Naval do Atlântico e 4ª Esquadra Americana. A Base Aérea de Parnamirim, no Rio Grande do Norte, montada pelos norte-americanos, passou a dominar as ações neste palco da guerra. Sem a presença de Artur.
A morte do piloto foi noticiada pela primeira vez no Diario de Pernambuco no dia 28 de julho, com direito a um editorial assinado por Assis Chateaubriand, o dono dos Diários Associados. Intitulado “Passarinho” e datada do dia 24 – um dia depois da morte do piloto – fazia referência ao ato heróico em defesa da pátria. “Artur Osvaldo não era gente. Não era homem. Chorá-lo seria estupidez e covardia. A morte viria engrandecê-lo mais ainda. Dentro do mar, ele é maior, mais vivo, mais luminoso do que solto no espaço, varando como bólido o céu livre da América”.
No dia 31 de julho, o Diario trouxe reportagem sobre a missa de sétimo dia pela morte do piloto, na matriz de Santo Antonio, com a participação do interventor Agamenon Magalhães.