Com um ano de diferença, o Recife e Nova York começaram a pensar na construção de grandes passeios públicos destinados a se tornarem os “parques centrais” das suas populações. O Recife, é claro, partiu na frente. Em 1844, o engenheiro francês Louis Léger Vauthier, contratado pelo conde da Boa Vista, apresentou a proposta da “Planta do arruamento do bairro de Santo Amaro”, uma área verde de 680 palmos de frente e 1.800 palmos de fundo, beirando o Rio Capibaribe, que deveria ser aproveitada pelas 50 mil almas que então habitavam a capital pernambucana.
Em 1845, os nova-iorquinos começaram a definir um local para seu projeto – concebido depois pelo escritor e paisagista Frederick Law Olmsted e pelo arquiteto inglês Calvert Vaux – que seria inaugurado em 1857. Com 390 mil habitantes na época, a cidade norte-americana garantiu 315 hectares de área verde, livre da especulação imobiliária.
Voltando ao Recife, o projeto de Vauthier não saiu do papel. O terreno de mangue em pleno coração da cidade – que tinha o sugestivo nome de Ilha do Rato – continuaria do mesmo jeito. Outros estrangeiros tentaram mudar este cenário ainda no século 19.
Nomeado no dia 28 de agosto de 1860, segundo publicado no Diario de Pernambuco, o engenheiro inglês William Martineau tornava-se diretor da repartição das obras públicas da província. Caberia a ele a proposta de tornar em passeio público a camboa (terreno baixo, alagadiço e pantanoso) do Riachuelo.
No dia 8 de agosto de 1863, o jornal transcreveu a discussão de uma sessão extraordinária da Câmara onde se avaliou o melhor local para a instalação de um passeio público na área central da cidade, “do melhor gosto e conveniência”. O terreno próximo à faculdade de Direito era a escolha ideal, “por ser um terreno banhado por três faces por um canal, dominando nele constante viração, condições estas que facilitam aos habitantes de qualquer das três partes o gozo de um aprazível recreio”.
Mas Martineau não conseguiu tirar a sua proposta – um parque em estilo geométrico, dividindo a área em quatro jardins com pátios, canteiros e fontes – do papel. No dia 5 de junho de 1867, o Diario trouxe anúncio do leilão da mobília do engenheiro inglês, que estava de partida com a família para a Europa.
Na década seguinte, outro francês, Emile Beringuer, apresentou a proposta de criação de um parque que deixasse o Recife à altura das grandes metrópoles europeias. defendeu um projeto com jardins, coreto e até um aquário em estrutura de ferro. Mas o vasto terreno continuou sem intervenção humana.
Novas propostas foram apresentadas em 1899, 1911, 1923 e 1932, mas a constante falta de dinheiro público atrasava as obras. Enquanto isso, o Central Park de Nova York já era uma realidade.
Na virada para o século 20, graças à mobilização de intelectuais que passaram a defender o aumento de espaços verdes públicos no Recife, o grande parque, já com o nome determinado de Treze de Maio – em homenagem à data da libertação dos escravos no Brasil – começou a ser construído.
Demorou para o Treze de Maio ser inaugurado, o que ocorreu oficialmente no dia 30 de agosto de 1939, para abrigar as solenidades do III Congresso Eucarístico Nacional.
Com 11,3 hectares, o Treze de Maio tinha projeto paisagístico de Burle Marx privilegiando árvores frutíferas. Os postes traziam esculturas de quimeras mitológicas. Crianças podiam brincar em balanços e escorregos. Ainda havia lago, aquários, orquidário, viveiros de aves, pérgola e bar. Uma fonte luminosa com 69 jatos produzia 16 efeitos diferentes.
Mas o grande passeio público começou a ser retalhado já na década de 1950. Um quarto da área foi ocupado pela Biblioteca Pública de Pernambuco e mais quatro escolas. Avenidas destruíram o conceito de um terreno único. Seu espaço acabou ficando reduzido quase à metade: 6,9 hectares. O vandalismo acabou fazendo com que grades de ferro fossem erguidas, tornando o passeio cada vez menos público.
Apesar de, na prática, não ser o mais antigo – antes dele vieram o Parque do Derby e Parque Sérgio Loreto (1925) e o Parque do Entroncamento (1928) – o Treze de Maio foi o primeiro parque urbano do Recife. A coleção de cartões-postais da coleção Josebias Bandeira, hoje integrante do acervo da Fundação Joaquim Nabuco, mostra o Treze de Maio na década de 1940, nos primeiros anos de funcionamento. Era um motivo de orgulho para os recifenses. Yes, nós temos um parque central. Ainda.