Parque Amorim em 1927 - Coleção Josebias Bandeira/Fundaj

Parque Amorim em 1927 – Coleção Josebias Bandeira/Fundaj

No dia 9 de janeiro de 1980, uma pequena nota publicada no Diario de Pernambuco, na coluna Diario Político, alertava para o triste fim de um espaço público: “Uma das mais acolhedoras praças do Recife – o Parque Amorim – está sendo transformada num amplo estacionamento. A má ocupação limitava-se às noites de festas no Clube Português, do qual é vizinho. Agora, por conta dos inúmeros blocos de apartamentos construídos nos arredores, os veículos estão sendo colocados até na parte gramada”.

Parque Amorim, s/d - Coleção Josebias Bandeira/Fundaj

Parque Amorim, s/d – Coleção Josebias Bandeira/Fundaj

Antes um dos lugares mais aprazíveis do Recife, o Parque Amorim passou a ser tratado como um problema para o trânsito recifense. Acabou sendo vítima da necessidade de abrir mais espaços para os motoristas. Para que se ter um bucólico lugar para passeios quando a ordem era chegar mais rápido ao destino, seja qual fosse?

Parque Amorim, s/d - Coleção Josebias Bandeira/Fundaj

Parque Amorim, s/d – Coleção Josebias Bandeira/Fundaj

Situado no local antes conhecido como Sítio da Cruz, o Parque Amorim era um dos espaços públicos mais visitados pelos recifenses até o final da década de 1950. Com seus eucaliptos, esculturas e até um tanque para peixe-boi – o escritor paulista Mario de Andrade, em visita à cidade em 1928 foi levado para conhecer o sirênio, o antecessor de Xica, que posteriormente habitou a Praça do Derby – foi um dos lugares remodelados pelo paisagista Burle Marx a partir de 1935.

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Parque Amorim, s/d – Coleção Josebias Bandeira/Fundaj

Com a urbanização crescente, o parque foi aos poucos estreitando-se a nível de passagens sobre o canal. Acabou reduzido a pequeno e estreito canteiro arborizado. O tanque do peixe-boi secou, os eucaliptos foram derrubados a machadadas.

Parque Amorim, s/d - Coleção Josebias Bandeira/Fundaj

Parque Amorim, s/d – Coleção Josebias Bandeira/Fundaj

O nome Parque Amorim derivou-se da família que habitava um palacete em estilo neoclássico situado onde hoje é o prédio da Embratel. De um dos seus moradores teria surgido a lenda urbana do papa-figo, registrada pelo sociólogo Gilberto Freyre no seu livro Assombrações do Recife Velho (Editora José Olympio – 1955).

Parque Amorim, s/d - Coleção Josebias Bandeira/Fundaj

Parque Amorim, s/d – Coleção Josebias Bandeira/Fundaj

Vivendo recluso, portador de alguma doença relativa a anemia profunda, o Amorim estranho consumia fígado bovino cru. Para o rapto de criancinhas indefesas bastou o falatório curioso do povo. Se ainda existisse hoje, o papa-figo não teria mais um parque para chamar de seu.