02.03

 

Mobilidade urbana: a importância da sinalização e das informações para motoristas e pedestres.

Vandeck Santiago (texto)
Bernardo Dantas (foto)

Um cidadão foi buscar o filho na Ilha do Retiro e, na volta, dirigindo-se a Candeias, onde mora, errou o caminho e entrou com o carro no bairro da Joana Bezerra. Foi cercado por dois assaltantes que o fizeram parar e o assaltaram. O vídeo da abordagem – gravado por uma câmera instalada no automóvel – ganhou milhares de visualizações e nos transportou para o momento de pavor vivido pelas vítimas.
Há neste episódio algo do qual todos temos medo, não só no Recife: o de errar o caminho desejado e entrar em zona perigosa, tornando-se uma vítima em potencial da violência urbana. Com todos os recursos tecnológicos que surgiram nos últimos anos (como o GPS), continuamos sob o risco de “se perder” – a sinalização não tem a eficiência que deveria ter e muitas vezes é precária. Em nosso caso, quem nunca se perdeu vindo pela BR-232 ao entrar no Recife? Comigo já aconteceu duas vezes, estando com crianças no carro – em ambas as ocasiões fomos parar no Ibura, simpático bairro da capital pernambucana, mas que não era o destino desejado. Isso em virtude da sinalização pouco clara, insuficiente. Depois que se perde, aí é que fica difícil encontrar um ponto de retorno para o lugar que pretende ir. Nas duas vezes só conseguimos após parar em posto de gasolina para pedir informações.
Esse tipo de comunicação falha não é exclusividade nossa; no mesmo período – o carnaval – em que o cidadão no Recife foi assaltado ao errar o caminho, uma turista argentina foi baleada na perna e na barriga ao também se perder e entrar por engano no Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, centro do Rio. No momento em que escrevo, ela encontrava-se em estado grave. A turista seguia com o marido (também argentino) e um casal de espanhóis. Dirigiam-se ao Cristo Redentor e entraram na comunidade ao seguir a rota indicada pelo GPS que os orientava.
A situação no Rio é mais grave que a nossa – lá o desfecho do engano pode ser fatal. No ano passado foram cinco casos, sendo que em três as vítimas morreram. Em 8 de dezembro o italiano Roberto Bardella, de 52 anos, foi morto a tiros ao entrar de moto no Morro dos Prazeres, o mesmo onde a turista argentina acaba de ser baleada. Ele também utilizava um GPS, que indicou um caminho mais rápido – e que passava exatamente por dentro da favela. Em 11 de dezembro, a tragédia deu-se com Paulo dos Santos, de 66 anos, que entrou na Favela Vintém por engano. Foi morto a tiros por traficantes de drogas. Não há segurança nem estando em comboio: em agosto, o soldado da Força Nacional de Segurança Hélio Andrade estava em um e isso não evitou que fosse atingido por disparos em um dos acessos à Vila do João, aonde o comboio tinha chegado após ter errado o caminho.
Sinalização precária e endereços confusos são uma característica comum nas cidades da América Latina; é como se elas fossem feitas para “iniciados”, gente que já está ali há décadas, que sempre passa pelos mesmos lugares, e que sabe – sem precisar de placa – aonde ir. Sem querer estabelecer a clássica comparação depreciativa (para nós) com os países ricos, o fato é que nas suas grandes cidades a preocupação com a sinalização é infinitamente maior do que entre nós. Incluindo os detalhes mais básicos, como “cuidado com o degrau” ou “olhe para a direita”, “olhe para a esquerda” – como recebem muitos visitantes, não habituados à mobilidade de lá, é preciso dar o máximo de informações. Nós não recebemos tantos visitantes, mas ninguém vive circulando pela cidade pra cima e pra baixo a ponto de conhecer os detalhes de cada via. Certo que hoje temos GPS e outros aplicativos que favorecem a mobilidade urbana (como os que informam as linhas dos ônibus e os horários em que chegam a determinadas paradas). Mas, noves fora os eventuais equívocos do aplicativo e o fato de em alguns lugares nem todas as empresas terem disponibilizado suas informações, é preciso levar em consideração que nem todos os usuários usam smartphone. Se você quer ver passageiros como barata tonta, sem saber que ônibus pegar para chegar em casa, basta acompanhar o que acontece durante o nosso carnaval…
Para completar, tem algo mais nessa questão, além do dar-informações-aos-neófitos. É o respeito pelo cidadão. Uma cidade cuja mobilidade urbana é mal sinalizada e com informações precárias, é uma cidade incompleta na acolhida aos seus habitantes e aos seus visitantes.