As fotógrafas Karina Morais e Claire Alice Jean juntam-se ao artista plástico Felipe Amorim na Villa Ritinha, quinta-feira.
Luce Pereira (texto)
Claire Alice Jean (foto)
A vida dá voltas, mas apenas quando os indivíduos resolvem (ou estão propensos) a mudar o rumo de suas histórias. Karina Morais, 38 anos incompletos, era formada em educação física e já tinha larga experiência na área quando resolveu abandonar tudo, fazer jornalismo e ser fotojornalista. Foi parar no Diario de Pernambuco como prestadora de serviço, adorou os desafios enfrentados na reportagem e depois passou a se dedicar mais de perto à fotografia. Felipe Amorim, 32, decidiu ir embora há 15 anos para os Estados Unidos – doze dos quais vividos em Nova York – e enfim se rendeu ao amor pelos desenhos, nascido desde a infância e estimulado pela família com vocação para as artes plásticas. Entrou para a faculdade e lá descobriu que ama por art, a expressão artística consagrada nos espaços urbanos onde as grandes cidades pulsam incessantemente. Claire Alice Jean, 62, é francesa de nascimento e trabalhava em seu país como bioquímica quando junto com o marido, arquiteto, acharam que estava na hora de mudar de vida. Acabou como gerente em uma fazenda no interior da Paraíba, durante duas décadas, fazendo melhoramento genético em animais. Findo o casamento, aproveitou a fase de transição para colocar em prática, através das lentes, o que o coração e os olhos viam. Os três estarão juntos na exposição Olhares entre mundos, em cartaz quinta-feira próxima, a partir das 19h, na Casa Cultural Villa Ritinha, na Rua da Soledade.
É natural que o fio que os una seja a sensibilidade, embora cada um expresse, de forma muito particular, sentimentos, informações e sensações a que estão expostos. Todos querem dizer “eu te amo” à vida, a si mesmos e aos lugares que elegeram para viver. Karina escolheu como tema a cidade em que mora e as imagens funcionam como um chamamento a que se revisitem lugares e paisagens, sem pressa para descobrir em cada um o encanto perdido nas urgências do dia a dia. É o Recife que foge das dores e dificuldades cotidianas para se revelar exuberante em formas arquitetônicas e personagens, mesmo aquela gente sobre a qual pesam sacrifícios e carências maiores. Pessoas e lugares se misturam para compor a paisagem social, o que acaba realçando um pouco as vivências da autora como fotojornalista. Mas, acima de tudo, a cidade captada é a que ainda resiste nos moradores com força de amor antigo.
Diferentemente, o dedo de Claire se prepara para apertar o disparador da câmera quando os olhos dela se deparam com uma situação de harmonia entre o humano e a natureza, de modo que a imagem permita ser realçada por um componente abstrato capaz de revelar a intensidade desse encontro. As imagens parecem quadros que se destinam a paredes de pessoas nas quais ainda resiste a fé na possibilidade de que o homem e o ambiente consigam viver uma relação respeitosa – cada um com suas limitações, claro. O trabalho de Claire, que se realiza com a colaboração de grandes amigos usados como modelos, muitas vezes, é parte da crença dela na beleza que o humano representa. Com todas as suas contradições.
Das lentes para os lápis e pincéis, o que move Felipe Amorim é o desejo de revelar sentimentos e olhares em direção ao mundo a partir de formas geométricas e abstratas, grafismos capazes de, também, expressar a admiração pela arte pop, consagrada por gênios como o norte-americano Keith Haring, “Acho lindo o trabalho de Gustav Klimt, por exemplo, mas no meu não há influência direta de ninguém, nem de Keith; procuro apenas expressar meu próprio conceito e ponto de vista sobre liberdade, traduzir o que a cena urbana de um lugar cosmopolita como o que eu moro produz em mim”, explica, mais interessado, porém, em deixar que as pessoas tirem suas próprias. conclusões. Pois que seja assim, quinta-feira, em relação às 50 fotos e os dez desenhos expostos.