No dia 12 de novembro de 1906, o Recife enfrentou sua primeira greve de grandes proporções. Reflexo das novas relações de trabalho no início do século 20, o movimento atingiu as linhas de bonde, o comércio e até os açougues. Para o Diario, a situação significou um novo tipo de cobertura para seus repórteres, que estiveram nas ruas desde o início da manhã para acompanhar o desenrolar dos acontecimentos.

O jornal, aos poucos, deixaria de apenas receber telegramas e publicar considerações sobre os fatos para ser também uma testemunha. A edição do dia 13 sobre a greve proporcionou também a experiência de ousar na capa, abrindo duas colunas no centro da página para o título em letras grandes “A GRÉVE”, e um sumário com todos os aspectos abordados pela reportagem.

Com uma quase-manchete, o Diario ganhava uma nova feição. A busca por detalhes fez da cobertura da greve de 1906 um motivo para a redação do Diario praticar um novo tipo de jornalismo. A narração do repórter ganhava força.

“Pouco depois das 6 horas da manhã chegavamos á cidade, que despertava aos poucos. Pequenos grupos de curiosos começavam a se formar nas ruas. Desde logo verificou-se estar suspenso o trafego de bondes, cujos cocheiros haviam adherido á greve. Para o Recife, o centro dos grevistas, todos accorriam. Diversos commerciantes discutiam o caso e se entenderam com o presidente da Associação Commercial sr. Eduardo de Lima Castro, que deliberou convocar uma assembléa de seus associados”, descrevia assim o jornal, em grafia da época, os primeiros momentos da paralisação.

Somente um grevista foi detido pela polícia, por ter tentado partir a corda que ligava um barco carregado de carvão ao cais. O combustível seria utilizado pelos trens. Em um país sem direitos trabalhistas claros, anarquistas e socialistas lutavam para conduzir a classe operária ao paraíso.

O trabalho livre e assalariado só ganhou força com a abolição da escravidão em 1888 e com a vinda dos imigrantes europeus. As primeiras normas trabalhistas surgiram no país com o Decreto nº 1.313, de 1891, que regulamentava o trabalho dos menores de 12 a 18 anos. No geral, trabalhava-se muito e ganhava-se pouco.

Quase 111 anos depois de anunciar a famosa greve de 1906, o Diario volta a tratar de direitos trabalhistas. O governo Temer quer aprovar uma reforma trabalhista no Congresso, alterando a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) que foi criada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e sancionada pelo presidente Getulio Vargas, durante o período do Estado Novo.

O país é outro. A história também.