28.04

 

ob impacto da aprovação da reforma trabalhista, país faz greve geral para protestar contra medidas de Temer.

Luce Pereira (texto)
Samuca (arte)

Parecia um Brasil vencido, o que acordou, ontem, depois de aprovada a reforma que ateou fogo a sete décadas de luta para fortalecer direitos da classe trabalhadora, conquistados a partir da CLT. Certamente, um dia para empregadores comemorar em grande estilo, porque, afinal, com a precarização do trabalho, a expectativa de lucro aumenta na proporção inversa ao respeito que as leis atropeladas pela votação na Câmara dos Deputados impunham à relação entre as partes. Analistas do dramático cenário pareciam estar cobertos de razão ao afirmar que a maioria dos trabalhadores não faz ainda a menor ideia do que tais mudanças trarão de ruim às suas vidas, mas a falta de debate com a sociedade foi usada exatamente como estratégia para minar resistências. Quanto menos informação, menos mobilização e reação, sobretudo quando se trata de matéria que interfere enormemente na vida de milhões de pessoas. Só porque não se pode esquecer, lembremos que 16 dos 24 parlamentares da bancada de Pernambuco, em completa falta de sintonia com as ruas, disseram sim ao projeto do governo Temer. Foi assim. No entanto, o “Brasil esmorecido” nem podia se dar ao luxo de ficar a um canto lamentando o leite derramado, porque esta sexta-feira chama para o exercício do único grande direito que continua de pé – o de cruzar os braços e ir às ruas protestar. Sim, porque ainda falta a votação de reforma da Previdência Social, até o dia 10 de maio, que coloca o direito à aposentadoria mais distante de quem trabalha arduamente para merecê-lo.
As centrais sindicais passaram a semana fazendo estimativas de setores que deveriam aderir à greve geral de hoje (ato público e concentração para a passeata a partir das 14h, no Derby), mas sabiam que a expectativa antes da votação da reforma trabalhista seria uma e depois, outra. Como se apostassem que a partir dali o país acordará de vez para a gravidade das medidas. É o que se espera, mas somente a dimensão do próprio evento vai dizer se de fato já é possível contar com uma reação à altura das transformações contidas no projeto de reforma da Previdência. Até ontem, mais de 50 categorias profissionais, no Recife, já haviam manifestado apoio ao movimento, que deve ser engrossado por outros municípios. Em nível nacional, transportes, bancos, escolas, aeroportos e outros setores importantes da economia se manifestaram dispostos a aderir à paralisação, vista como a maior desde a primeira greve geral de trabalhadores, realizada há cem anos, em julho de 1917. Independentemente de motivações políticas e ideológicas, parte mais esclarecida da população enxerga a greve como um ato educativo, que faz refletir sobre o momento atual, sobretudo porque, numa democracia, governos costumam abrir o debate sobre temas decisivos, que dizem respeito ao futuro de milhões de cidadãos. Não é o que tem acontecido e, a depender exclusivamente da vontade do governo Temer, não será.
O ânimo do Brasil, hoje, nem de longe pode lembrar o ânimo do Brasil que amanheceu ontem sob impacto da aprovação da reforma trabalhista. É preciso ir à luta para lembrar ao presidente Temer e ao Executivo que temas nacionais de primeira grandeza não devem ser tratados no silêncio de gabinetes, depois decididos apenas por parlamentares e outros senhores cuja vida pública mais parece uma provocação aos reais interesses do povo brasileiro. Os argumentos usados para explicar a urgência e a necessidade de uma reforma desta magnitude na Previdência, por exemplo, só consideram o déficit nas contas, mas não a origem dele e a rapidez como foi sendo alimentado pela má gestão dos recursos. Além disso, não se sabe em qual momento o governo partiu para uma análise profunda de soluções menos traumáticas com o objetivo de equilibrar essas contas. Então, sem oferecer saídas, entrou na guerra e a venceu como o rei Pirro, da Macedônia – às custas do exército inteiro. Mesmo sabendo que de vitórias obtidas a preços impagáveis o país está farto.