Thalita, 12 anos, insiste em fazer o teste da companhia, em Santa Catarina, mas necessita de apoio para viajar.
Luce Pereira (texto)
Arquivo pessoal (foto)
A distância geográfica entre Moscou (Rússia) e Maranguape (Paulista) é tão grande que não vale nem a pena calcular, até porque, aqui, importa apenas a distância social que separa a bailarina mais influente do balé Bolshoi, Svetlana Zakharova (38), da menina Thalita Izabelle (12), candidata irredutível a seguir os mesmos passos do ídolo. Não porque a ucraniana se transformou na mais bem paga do mundo, mas porque virou símbolo de perfeição ao longo de uma carreira que começou aos seis anos, numa escola local. Foi nesta idade, também, que Thalita escolheu a vida que se vive “na ponta dos pés”, mas, desde então, a realidade trabalha contra o sonho, embora a persistência não o deixe morrer. Muito pelo contrário: está na hora de lutar, outra vez, para conseguir uma vaga na representação da companhia russa que funciona na cidade catarinense de Joinville. Em 2015, ela quase conseguiu – chegou a ficar entre as 20 melhores, mas na etapa de eleição das dez primeiras entendeu que precisaria de mais esforço e aprimoramento nas aulas da Academia Fátima Freitas, onde tem meia bolsa de estudo. De lá para cá, é o que vem buscando. Porém, no meio desse caminho está a velha pedra: como conseguir dinheiro para fazer parte do conjunto de meninas que concorre ao mesmo sonho, na próxima audição, às 8h do dia 25 de julho?
Da primeira vez, um advogado que não quis ter o nome revelado fez as vezes de “anjo” e pagou passagens (dela e da mãe, Jacyanne), além de três diárias em uma pousada de Joinville, mas, não pode continuar com a missão simplesmente porque não reside mais em Pernambuco. Decidiu ajudar, naquela época, depois de ver a matéria em uma TV local. Mas, se por um lado a reportagem surtiu efeito positivo – facilitando a obtenção dos recursos necessários à tentativa – por outro expôs a criança a situações de bullying. Alunas, na academia anterior, zombavam dizendo que ballet “não é para todo mundo”. Então a mãe, que continua desempregada, “fazendo um bico ou outro”, conseguiu a meia bolsa na escola atual onde paga, com o dinheiro da pensão que recebe do ex-marido, R$ 125,00. Thalita treina cerca de três horas e meia em cada uma das três aulas que tem por semana e faz alongamento em casa, aos domingos, que é quando encontra tempo, pois também segue estudando como qualquer menina de sua idade, independentemente do sonho de se tornar bailarina profissional.
Quando imagina os ídolos – Svetlana e Ana Botafogo –, diz que não pensa no sacrifício de, por exemplo, pegar seis ônibus (três na ida e três na volta) para ir treinar em Boa Viagem, muitas vezes depois de chegar da escola e apenas comer qualquer coisa, às pressas. Imagina somente que aquele é o caminho de sua vocação e a maneira com que sonha em ajudar a mãe, a avó e o irmão, todos morando sob o mesmo teto. Por sua vez, Jacyanne se declara 100% disponível para trabalhar pelo sonho da filha, “uma criança educada, alegre, carinhosa”. De fato, em alguns minutos de conversa já fica fácil entender os elogios e constatar a determinação da menina, algo quase incomum em pessoas nesta faixa etária.
É preciso dizer que a maioria dos bailarinos começa a estudar profissionalmente a partir dos 13 anos, conscientes de terem abraçado uma carreira repleta de sacrifícios, renúncias e desafios. Com iniciantes, o mercado é bem cruel: segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a média de salário deles em Santa Catarina é de R$ 1.007,50, enquanto em São Paulo, R$ 3.685,50. Estima-se que os custos com a fase de aprendizado, entre os 6 aos 18 anos, é de R$ 87,8 mil, significa que um bailarino em solo catarinense precisa trabalhar cerca de sete anos apenas para recuperar o investimento feito. Eis um dos motivos que mais levam a desistências. Thalita, no entanto, só quer a chance de colocar o pé nesse caminho. Vamos ajudar? Meu e-mail é lucepereirajornalista@gmail.com e o telefone para contato com a família, (81) 9 9539-2571.