Programação do Festival de Inverno de Garanhuns é, com certeza, uma das melhores dos últimos anos.
Luce Pereira (texto)
Editoria de arte (imagem)
Nunca foi grande assim, como neste ano, a possibilidade de o FIG ser realmente um festival de “inverno”, pois os termômetros andam dando ajuda tão convincente que, nos últimos dias, até no Recife a temperatura convida a tirar do armário ao menos o “cardiganzinho”, útil apenas quando o ar condicionado da empresa está abaixo dos 21 graus. Conte, portanto, que aquelas amadas peças de frio que dormem o ano inteiro no armário, sem utilidade nenhuma, serão muito bem-vindas de 20 a 29 de julho, quando começa o 27º Festival de Inverno de Garanhuns. Alguém mais curioso em relação à história do evento pode aparecer com o cartaz do primeiro (1991) e questionar a matemática usada para calcular o número de edições – segundo o impresso, seria a 26ª – mas não deve se queixar das atrações oferecidas nos dez dias de festa. A grade de programação é capaz de agradar a gregos e troianos, entendendo-se aqui que os tais gregos e troianos se parecem ao menos em um ponto – são apreciadores de boa música e podem sair satisfeitos, também, de espetáculos de teatro, apresentação de filmes, palestras e eventos de gastronomia, entre outras propostas. Em sua maioria as escolhas foram felizes, especialmente em relação aos palcos.
Na verdade, poucos festivais do gênero, no país, têm o nível de consolidação do FIG, embora já sejam previsíveis, todos os anos, dúvidas sobre o tamanho do evento e a ocorrência de alguma polêmica envolvendo contratados, como foi o caso, em 2013, da embriaguez do cantor Ortinho que redundou em um ataque de misoginia merecedor de monumental repúdio nas redes sociais: enquanto fazia o show, disse que apenas as mulheres grávidas mereciam respeito. O cantor e compositor cearense Belchior, dono de letras profundas e delicadas, odiaria ver episódio semelhante se repetir numa festa que homenageia sua memória e sua obra (indiscutivelmente bela). A depender do nível de bandas e artistas como Tom Zé, Baby do Brasil, Mundo Livre, Tibério Azul, Geraldo Azevedo, Alice Caymmi, Cida Moreira, Ednardo, Tulipa Ruiz, Fafá de Belém, Chico César, Fernanda Abreu, entre outros, o máximo que pode acontecer é um brinde à saúde da MPB e à diversidade que ela abriga.
Não resta dúvida de que além do tributo a Belchior, com destaque para as participações de Ednardo e de Cida Moreira, um dos momentos emocionantes deve ser o show da cantora Marina Lima, que depois de enfrentar problemas de saúde e de ter passado bom tempo fora de cena (ainda não está com a voz perfeita), vem fazer um resgate musical da carreira à base de carinhosa troca com a plateia. Ao que se sabe e se viu país afora, Marina sempre foi uma das cantoras brasileiras mais envolventes, dona de presença em palco e repertório difíceis de esquecer. Assim, tendo na coordenação geral André Brasileiro, conhecido pelos projetos com teatro e música, esta edição do FIG caminha para ser uma das melhores. Por enquanto, só um pouquinho de paciência com o APP sobre o evento, que traz datas desencontradas, segundo internautas, e as condições precárias da BR-232, pioradas com a chuva que não para de cair sobre o trajeto até a cidade de São Caetano. Mas se nada é perfeito, nada, também, supera o otimismo quando a decisão é aproveitar o melhor da festa.