25.07
Organização pede que limites sejam estipulados, para evitar estímulos à pedofilia e a estupros.

Vandeck Santiago (texto)
Silvino (arte)

Se você pensava que o único problema com a inteligência artificial e os robôs era a perda de emprego dos humanos, senta que lá vai a problematização em direção a outra área: a do sexo. Aparentemente isso não nos diz respeito — afinal, o que temos a ver com a privacidade de quem se satisfaz sexualmente com uma boneca ou um boneco? Mas é aí que vem o problema. E se os responsáveis pela produção desses robôs sexuais começarem a fabricá-los com aspecto de… crianças? Pois é, já existem. Outra questão: e se começarem a produzir os que vêm com a opção de simular resistência, para parecer que estão sendo vítimas de estupro? Pois é, também já existem. Estes custam entre 5 mil e 15 mil euros (de R$ 18 mil a R$ 54 mil). No site de uma dessas empresas eles são oferecidos com a promessa de que o comprador poderá realizar “seu mais íntimo sonho sexual”.
Por estes exemplos a gente já vê que a questão não é só de privacidade individual; diz respeito à sociedade em geral. Tanto que em fevereiro do ano passado foi criada na Inglaterra a Fundação para uma Robótica Responsável, autora de um relatório em que pede a regulamentação do setor, capaz de estipular o que pode ou não ser permitido. A preocupação é que a ausência de regulamentação dê brechas para estímulos à pedofilia, prostituição e estupro. O assunto já ganhou espaço privilegiado na mídia internacional. Semana passada The Independent, de Londres, trouxe matéria sobre o assunto. No início do mês o tema esteve em artigo do El País espanhol. O New York Times fez reportagem informando que uma empresa na Califórnia produz anualmente 600 desses humanóides, exportados para todo o mundo.
Há quem considere que robôs com esta finalidade podem cumprir um papel positivo: os humanos que se satisfazem praticando com eles atos que na vida real seriam crime, podem deixar de cometer a violência contra os humanos. “Alguns dizem que é melhor violar um robô que pessoas reais, mas outros opinam que essa prática vai estimular mais os estupradores”, diz o professor Noel Sharkey, professor da Universidade de Sheffield (Inglaterra) e um dos autores do relatório da Fundação para uma Robótica Responsável. Outro professor, Aimee van Wynsberghe, diretor da Fundação e professor de ética e tecnologia da Universidade de Delft (Holanda), aponta efeitos benéficos do sexo com robôs no caso de pessoas adultas, “com disfunções físicas” ou vítimas de traumas. A ressalva a “pessoas adultas” leva ao fato de que pesquisa no Reino Unido, mês passado, constatou que 25% dos jovens entrevistados gostariam de “ter um encontro” com os robôs sexuais.
Na ficção o tema já não é novidade. Her, de 2014, conta a história de um homem solitário que se apaixona pela voz de um programa de computador. Na época o filme foi tratado pelo noticiário como um “drama romântico”… Na TV temos a badalada série Westworld, em que humanos pagam para divertir-se – inclusive sexualmente – em um mundo de robôs.
Na política a União Europeia propôs seis leis para a robótica. Parece filme de ficção científica, mas é a pura realidade. Uma das leis propostas é que “todo robô deve ter um interruptor de emergência” — para desligá-lo se for necessário. Outra lei determina que nenhum robô poderá causar dano a um humano (lembram de algum filme com este enredo?…). As outras leis propõem um “seguro obrigatório” para eles (a ser pago pelo fabricante e pelo proprietário), estabelecimento de “direitos e obrigações” e “pagamento de impostos” (para cada robô, a cargo também de fabricante e proprietários). A motivação aí é tentar reduzir o impacto social do desemprego eventualmente causado por eles.
No vertiginoso mundo da Inteligência Artificial, parece que uma nova fronteira foi alcançada, diz matéria do The Independent. O jornal não exagera: já estamos discutindo até impostos e questões morais relacionadas a robôs…