Quatro décadas separam o adeus do ídolo da rentável indústria de entretenimento ligada à imagem dele.
Luce Pereira (texto)
Samuca (arte)
Quando se fala em fanatismo por estrelas da música, uma personalidade logo vem à cabeça: Elvis Presley. Não por acaso, segundo consta em livros escritos sobre ele pelo britânico Ted Harrison, “é a única pessoa dos tempos modernos reconhecida imediatamente pelo primeiro nome no mundo todo.Você diz ‘Elvis’ em Pequim, Nicarágua, Estônia ou Fiji e todo mundo sabe de quem você está falando, além de todos os idiomas e culturas”, afirmou, numa entrevista. Portanto, nada a estranhar quando, durante alguns anos, a imprensa mundial abriu amplo espaço ao “delírio” dos adoradores, que queriam mantê-lo vivo ao defender a tese de uma suposta morte “inventada”: o ídolo ainda existiria em algum lugar secreto, absolutamente inacessível. Foi preciso aparecer gente feito James Burton, seu principal guitarrista, de 1969 a 1977, para colocar água na fervura ao afirmar tê-lo visto sem vida, naquele 16 de agosto, durante a visita à casa de Memphis (Tenessee) onde a família Presley morava – e desde 1982 transformada em museu, espécie de Meca dos milhares de apaixonados pelo artista. Nesta quarta-feira, 40 anos depois do infarto fulminante que o calou, a cidade estima que Graceland, como é batizado o local, vá receber uma respeitável romaria de cerca de mais de 50 mil pessoas.
Desde 1982, quando parentes resolveram abrir as portas ao público, os números são tão espetaculares quanto eram as performances do falecido: o lugar recebe cerca de 600 mil visitantes por ano, o que desde então já soma mais de 20 milhões deles e 150 milhões de dólares anuais incorporados à economia de Memphis, decidida a investir fortemente no mito como se não tivesse dúvida sobre o tamanho da paixão dos fanáticos. Só neste ano, 45 milhões de dólares gastos para ampliar o complexo de entretenimento e erguer um hotel que ocupa 16 hectares. Tudo tem a dimensão da fama do artista, que vendeu mais de um bilhão de discos (apenas no dia da morte dele foram compradas 250 mil cópias do último álbum, Moody blue) e se divertia com excentricidades como dar cadillacs a desconhecidos que encontrava pelas ruas, feito pretendesse com gestos assim apagar a infância pobre vivida ao lado dos pais – um caminhoneiro e uma operária de tecelagem industrial – em Tupelo (Tenessee). Ano passado, a revista Forbes o colocou ocupando o quarto lugar na lista das celebridades falecidas a seguir engordando a receita da família: nada menos do que 27 milhões de dólares a cada ano.
Uma pequena mostra do suntuoso mundo de Elvis está a caminho do Brasil para uma exposição comemorativa dos 40 anos da morte dele. Será inaugurada em setembro, no Shopping Eldorado (São Paulo), e deve contar até com a presença da viúva, Priscilla Presley, que cedeu 500 itens pessoais como um telefone folheado a ouro e o carro vermelho conversível usado em cenas do célebre filme Feitiço havaiano. Os organizadores da exposição The Elvis Experience prometem ocupar uma área de 2 mil metros quadrados para exibir todo o acervo em 16 ambientes e isto deve aplacar a fome dos devotos, que mesmo em Graceland não tinham acesso aos objetos, cerca de 90% deles mantidos guardados pela família. A perspectiva é de ser uma das mais vistas pelos fãs, que no caso de Elvis parecem mais ardorosos e dispostos a sacrifícios, a julgar pela surpreendente quantidade de covers espalhados pelo mundo, alguns com semelhança tamanha que fazem plateias fechar os olhos como se se sentissem diante dele num daqueles shows arrebatadores. Mas nada comparável, segundo o próprio James Burton, cujos solos de guitarra já serviram para também realçar o sucesso de outros grandes ídolos como Bob Dylan, Chuck Berry e Frank Sinatra: “Sabe, eu conheço muitas dessas pessoas. Porém Elvis Presley é incomparável. Todos o imitam porque o admiram. Mas, lembre-se: só existe um Elvis. Podem falar e se vestir como ele, mas nunca serão iguais”. E assim a lenda de Memphis vai ganhando contornos de eterna.