Travel Leisure deixa país de fora da lista dos 50 mais visitados, mesmo sendo o segundo em belezas naturais.
Luce Pereira (texto)
Greg (arte)
Não diga que não se incomoda quando alguém de outro país fala sobre a péssima ideia que é fazer turismo no Brasil. Aquilo parece espinho espetando algo muito querido para cada um de nós, mas a consciência aparece e diz que o observador tem razão, ainda mais se ele veio tirar a prova dos nove e colheu experiências ruins. Pessoalmente, fosse eu habitante de algum lugar aprazível, de economia estável, onde direitos humanos são levados a sério e as pessoas respeitam o que é público na mesma medida do que é privado, não gastaria dinheiro vindo para o Brasil viajar por estradas esburacas, ficar à mercê de serviços e estrutura precários, pagar caro por aquilo que nem de longe reflete o preço e ainda ter a sensação de que o passeio pode ser comparado a uma roleta russa, quando se trata de segurança: se o visitante der sorte, é possível voltar para casa apenas deduzindo que a empreitada poderia ter sido bem pior. Uma lástima, considerando que esta indústria representa 10% do PIB mundial e responde por uma em cada 11 vagas de emprego. Lá fora, é a menina dos olhos dos governos, que não medem esforços para mantê-la em perfeita forma, com apetite cada vez mais voraz pelo dinheiro dos viajantes. Pasme: nos quesitos recursos e belezas naturais, o Brasil é o segundo entre 133 países do planeta e ainda o 14º bens culturais, mas está fora da lista dos 50 mais visitados, de acordo com pesquisa da Travel Leisure, influente revista do segmento, nos EUA, que tem em torno de 4,6 milhões de leitores.
Para autoridades às quais o turismo está entregue, no Brasil, a culpa seria da imagem de insegurança levada além de oceanos e fronteiras, mas o argumento logo se desmancha feito sorvete debaixo de sol tropical quando se sabe que países considerados muito violentos como o México, a Turquia e o Egito recebem mais turistas. Além disso, é bom não esquecer que mesmo com os ataques e ameaças do terror o fluxo deles cresceu 4% na Europa, número tão excessivo para a capacidade de alguns centros urbanos que cogita-se controlar a quantidade de visitantes em lugares como Veneza (Itália). E a propósito, Espanha, França e Reino Unido recebem número dez vezes maior, mesmo o Brasil possuindo dimensões continentais. Tem, por exemplo, 15 vezes o tamanho do território espanhol e, no entanto, só no mês de julho os espanhóis contabilizaram quase duas vezes mais turistas do que nós em 2016.
Não há mistério algum na conta que faz do Brasil um país sem muita expressão nesta área, com centros como o Rio de Janeiro perdendo feio para outros da América Latina como Buenos Aires (Argentina) e a Cidade do México, que juntas superam, inclusive, o turismo em território nacional. É um vexame que salta aos olhos, mas fácil de ser explicado pela incapacidade do governo de enxergar o óbvio, mudar de discurso e dar a mão à palmatória, reconhecendo que o gigantesco déficit público poderia começar a ser diminuído com estímulo a segmentos de extrema importância como o turismo, não com medidas mundialmente rejeitadas como é a entrega da Amazônia ao capital privado. No entanto, com as ambições e interesses pessoais ocupando a maior parte da agenda dos políticos, as expectativas são para lá de desanimadoras. Melhor ir treinando alguma forma de fazer vistas grossas aos gracejos de estrangeiros sobre como somos incompetentes para crescer usando aquilo que a natureza e a História nos deram de mão beijada.