De 1985 até hoje, Pernambuco já teve cinco grandes reviravoltas na formação de alianças políticas.
Vandeck Santiago (texto)
Sidney Passarinho (foto)
Esta foto é de 1985, naquela que foi a eleição mais dramática de Pernambuco após a redemocratização. Um gesto inesperado foi que lhe deu dramaticidade: Marcos Freire, um dos principais líderes do chamado PMDB autêntico, capitaneou uma aliança entre PMDB e PFL, que culminaria no lançamento de um candidato único, Sérgio Murilo. Os dois partidos já haviam se unido em torno de Tancredo Neves, possibilitando a derrota em votação indireta do candidato oficial do governo, Paulo Maluf, e assim consolidando a redemocratização. Mas uma coisa era uma aliança nacional; outra, a reprodução dela aqui, onde os dois partidos eram como água e vinho. Se vocês acham que há radicalismo nos dias de hoje, precisavam ver como era em 1985.
Sem espaço, Jarbas Vasconcelos e a esquerda do PMDB (Miguel Arraes, Pelópidas Silveira, Fernando Lyra) migraram para o PSB e por esse partido ele lançou-se candidato. A aliança PMDB-PFL tinha cerca de 16 minutos na propaganda eleitoral gratuita em rádio e televisão, contra pouco mais de 1 (um) minuto do PSB. Parecia impossível reverter a desvantagem pelo tempo na propaganda e a força da amplitude do palanque aliancista, mas numa virada espantosa na reta final da campanha, Jarbas Vasconcelos elegeu-se prefeito do Recife.
De lá para cá, nós tivemos cinco reviravoltas de palanques em Pernambuco. Esta de 1985 foi a primeira. A segunda foi em 1986, quando o então secretário da Casa Civil do governador Roberto Magalhães, Fernando Bezerra Coelho, deixou o palácio e passou para o lado de Arraes e Jarbas. Neste ano Arraes venceu as eleições para governador, derrotando José Múcio Monteiro, candidato do PFL.
A terceira reviravolta aconteceu em 1994, quando quem fez a aliança com o PFL foi Jarbas Vasconcelos – àquela altura ele já retornara ao PMDB. Os dois antigos partidos adversários conseguiram atrair outros e fizeram a chamada União por Pernambuco – uma poderosa aliança que venceria as eleições para governador em 1998 e 2002, ambas tendo Jarbas Vasconcelos como candidato.
A quarta reviravolta deu-se em 2012, quando Jarbas e o PMDB aliaram-se com o PSB de de Eduardo Campos e derrotaram o PT nas eleições para prefeito do Recife.
A quinta reviravolta está-se dando agora, com a migração do senador Fernando Bezerra Coelho e seu grupo para o PMDB, movimento que tira de Jarbas o controle do partido.
Como se vê, essas migrações não são novidade em nossa política. Numa perspectiva mais geral, buscam fortalecer-se para derrotar os adversários; numa mais particular, são movidas pela necessidade política dos seus protagonistas. Voltemos a Jarbas. Em determinado momento ficou claro para ele que o espaço à esquerda na política pernambucana estava agora delimitado por Arraes. Do outro lado estava o PFL, de quem sempre divergira. Em 1990 ele perdeu a eleição para governador. Não conseguiu fazer com que Arraes concorresse ao Senado (o que, em sua visão, fortaleceria a chapa; Arraes disputou mandato de deputado federal) nem que o PT se incorporasse ao seu palanque (uma ala do PT queria, mas prevaleceu outra, mais radical, favorável à candidatura própria, de Paulo Rubem Santiago). Perdeu por pequena margem, 150 mil votos (Paulo Rubem teve 64 mil; Arraes foi o mais votado para federal, com 339 mil votos).
Em 1992, quando ele saiu novamente candidato a prefeito do Recife, já investia em carreira solo – agora sem o apoio da esquerda. Ele precisava criar o seu próprio espaço, que não teria as características do PFL nem a da esquerda. Era impossível criar este espaço estando junto aos seus antigos companheiros; a alternativa era compor uma aliança com adversários, como o PFL, e foi isso que ele fez. O gesto lhe garantiu dois mandatos de governador. Em 2012, quando o seu poder fora bastante reduzido e o seu futuro afigurava-se de dificuldades eleitorais, Jarbas aderiu ao PSB, encontrando uma fórmula de revigorar-se.
Convém ressaltar que Jarbas não é um oportunista. Entrou no MDB em 1969 e, integrante da ala autêntica do partido, foi um dos principais combatentes da ditadura, colocando em risco seu mandato e sua integridade física. Na eleição de Tancredo Neves, que uniu PMDB e PFL, Jarbas (assim como o PT e alguns integrantes da esquerda do PMDB) recusou-se a votar, em protesto contra a eleição indireta para presidente.
Ontem ele foi alvo de um ato de desagravo, no Recife. Jarbas tem uma carreira que merece respeito. É um dos grandes nomes de nossa política. Como vimos aqui, a política é terreno onde as reviravoltas de palanque seguem o cheiro do poder. Está acontecendo agora com ele na posição defensiva. Mas a forma como o PMDB nacional o está tratando neste episódio não o apequena; quem se apequena é o PMDB nacional.