O “senhor do castelo”, Ricardo Brennand, comemorou conquista do prêmio Traveler’s Choice Award.
Luce Pereira (texto)
Teresa Maia (foto)
Se a conversa fluir em torno dos temas arte e cultura, não se importe de rebatizar o Recife como a “Terra dos Brennand”. Nâo é exagero, visto que a família acabou se transformando em referência do segmento depois que os primos Francisco e Ricardo, ambos com 90.anos, decidiram partir para erguer dois templos destinados a abrigar obras e coleções raras. Primeiro Francisco, quando em 1971, em terras da Várzea, construiu sua oficina-museu, que para amantes do ofício e pessoas chegadas à contemplação é uma espécie de oásis no coração do desgastado bairro da Zona Leste. Enche os olhos e o espírito, levando o visitante a se sentir como em um mundo de seres mágicos e exóticos saídos da privilegiada imaginação do dono. Três décadas depois (2002), Ricardo, ao abrir as portas do instituto que leva seu nome, também na Várzea. Apenas um sobrevoo pela área de 18 mil hectares pode dar a dimensão do complexo inspirado na arquitetura medieval, onde estão guardados pinturas, esculturas, tapetes, armas seculares e outros objetos de inestimável valor artístico e financeiro como 20 telas do pintor holandês Frans Post, que fazem parte do acervo das quatro exposições permanentes da casa. Não só pela surpreendente infraestrutura – que inclui o Museu-castelo São João, pinacoteca, galeria, biblioteca, capela, parque, além de lagos artificiais – mas também pela importância do acervo, o IRB voltou a ser eleito, pelo segundo ano consecutivo, o melhor museu da América do Sul.
Ricardo Brennand comemorou o resultado, fruto de consulta a usuários da plataforma TripAdvisor: “Esse sonho (o IRB) foi possível pelo apoio que obtive de minha família, meus amigos, minha equipe e minha gente”, disse. O prêmio anual Traveler´s Choice Award deixou o Instituto na confortável posição de 18º melhor do mundo, que tem no topo da lista o Metropolitan Museum of Art, de Nova York, seguido pelo também norte-americano Museu Nacional da Segunda Guerra Mundial (Nova Orleans). Aqui, o Instituto venceu os famosos Pinacoteca de São Paulo (segundo lugar), Museu Oscar Niemeyer (Curitiba, PR), terceiro colocado, Museu do Amanhã (Rio), quarto do ranking, e a cidade-museu Inhotim (Brumadinho, MG), que obteve a quinta colocação. A preferência dos “eleitores” também pode ser entendida através do número de visitantes registrado em 15 anos de existência da casa, mais de 2,5 milhões de pessoas. Naturalmente, o turismo do Recife agradece, pois o local certamente funciona como atrativo para visitantes interessados em cultura e mesmo curiosos em conhecer a construção monumental, de estilo bem inusitado entre os museus do país.
Também como parque, o IRB não deixa a desejar. Tão verde, amplo e com lagos projetados, é excelente local para refletir, ler, conversar amenidades com amigos e se refazer da rotina estressante vivida no Recife, cidade ainda longe de valorizar a vida ao ar livre, pelas feridas urbanas crônicas que não consegue curar – a insegurança entre as maiores. Para facilitar o acesso a quem não dispõe dos R$ 20 cobrados pelo ingresso, a última terça-feira do mês, exceto em janeiro, julho e dezembro, quando a frequência aumenta consideravelmente, tem entrada franca. Tal como na Oficina Francisco Brennand, é possível respirar ar puro e sentir como ali é perfeita a convivência entre natureza e arte.
Considerado por revistas especializadas como um dos homens mais ricos do Brasil e depois de ter enfrentado e vencido os maiores desafios profissionais como multiempresário, compreende-se a decisão de Ricardo Brennand de concentrar esforços para fazer do IRB respeitável templo da arte no país. Independentemente do que o tenha motivado a isto – a vaidade levada a extremos, pelos desentendimentos e a disputa com o outro primo bilionário, Cornélio, ou simplesmente o desejo de se rodear do que de fato passou a ser alimento espiritual. Em qualquer dos casos, importa apenas que a arte saiu ganhando e por tabela, a população.