12.10

Em Caruaru, grupo de pais faz show particular no Dia das Crianças para filhos e surpreende.

Silvia Bessa (texto)
Arquivo pessoal (foto)

Quando Rennata adentrou na sala de música vestida igual à personagem Anna, do famoso filme Frozen, o filho Iago abriu o sorriso largo no rostinho. Quase não acreditou que a grande atração no Colégio Motivo de Caruaru às vésperas do Dia das Crianças era a mãe dele, a Anna de cabelos trançados, ao lado de outras mães dos colegas. Rennata Melo ontem fez par com a mãe Kamila Machado, paramentada da irmã Elza, e as duas deram brilho especial à fantástica ideia de serem presentes dançantes para seus meninos. “Mãe, não acredito, você fez isso por mim!”, exclamou, enlouquecida de felicidade, Joana, 5 anos, filha da dentista Kamila, que tem outras duas crianças. Houve quem se vestisse de Minnie, Alice no País das Maravilhas, bruxas, palhaça – ainda que estivessem todas cobertas com a timidez própria de adulto em situações assim, considerando que nenhuma tem a fantasia como atividade profissional. Alguns homens fizeram as vezes de mestres de cerimônias.
Fiquei admirando a alegria, cores e sorrisos alheios ao ver as fotos e pensando que não existe presente caro, amarrado em um laço grande que me tire a certeza: presente bom mesmo é este para crianças. O pacote afetivo, aquele que dá brilho aos olhinhos miúdos e que atesta a sinergia e entrega entre pai, mãe, avó, tia e os que vivem por perto. Nada de megaprodução, de ostentação, na manhã de ontem. A escola fez o convite, lançou a proposta – aliás, muito inclusiva quando se fala de família e perspicaz dentro da valorização do que realmente importa – e deixou a produção com os pais.
Eles, então, deram o show e a plateia, das mais queridas, ficou extasiada. Foram as mamães e os papais quem se organizaram e cuidaram de apresentar à meninada as novidades, direto do túnel do tempo. De surpresa, claro, que a graça seria maior. Fizeram a boa e animada corrida de saco, dança das cadeiras, brincaram rebolando com bambolês. Improvisaram na pintura dos rostos dos filhos. Por fim, nada como um quebra-panela cheio de guloseimas para encerrar uma festa muito diferente para os dias atuais. A maioria nunca tinha visto objeto semelhante. “Garanto que o presente ficou esquecido. Amaram o dia”, crê Kamila. “As crianças estavam ouriçadas. Os olhos brilharam e as meninas corriam para me abraçar encantadas com a Anna”, arremata a animada mãe de Iago. Ele, que tem atraso global de desenvolvimento por ter nascido com prematuridade extrema, entrou este ano no Motivo e lá é acompanhado por uma mediadora da área de psicologia.
Da escola para a casa de Rennata, deve-se dizer que a filosofia do simples é estendida. Farmacêutica e estudante de arquitetura, ela preza pela confecção de brinquedos artesanais com latas de leite e outros materiais reutilizáveis para Iago e com Iago. Há um investimento forte na integração da família com o menino. Quando o pai Marlos não está trabalhando no Recife, a atividade preferida de Iago é jogar bola. “Todo o tempo dele no final de semana é hora efetiva com Iago”. Se não está jogando bola, está improvisando uma música. O pai canta e batuca, enquanto o filho toca o pandeiro ou o cajon (um instrumento de percussão, típico da cultura peruana). Já com a mãe, adora observá-la cozinhando. “É risoto, mãe?”, questiona com frequência, sabendo da preferência de Rennata.
Hoje, quando se comemora o Dia das Crianças, Iago tem garantido o presente de que mais ama o ano inteiro: a praia. A areia que não custa nada, o prazer de jogar frescobol com o pai Marlos, outro bem que nenhum cartão de crédito é capaz de pagar. E assim Iago tem crescido desfrutando do que há de mais importante, a dedicação dos pais. É o que vale no final das contas e o que vai ficar para Iago e para outras crianças. Em casa, na escola, no feriadão ou na rotina do ano inteiro, nada mais moderno que pais-presentes.