Casal faz ensaio fotográfico para celebrar seis décadas de convívio e dá a fórmula para união duradoura.
Silvia Bessa (texto)
Leda Pinto/Divulgação (foto)
Os dois estão prestes a completar 60 anos de casados, acabam de produzir um apaixonado ensaio fotográfico com coroa de flores naturais e suspensórios pretos e Titico continua exibido com a maior conquista de vida dele: o coração de sua amada Loura. Desde sempre conta por aí que tudo começou quando a viu em uma festa junina. Golpeado por um amor avassalador, roubou-lhe um beijo para, enfim, arrebatar o coração daquela bela jovem de 19 anos. Loura estava quase noiva e deixou o antigo pretendente de lado. “Escolhi ele porque o outro morava no sítio. Titico era da cidade e era radiotécnico”, responde ela, fazendo piada ao garantir que, à época, o emprego de radiotécnico lhe parecia por demais promissor para um futuro marido. Como se vê, o humor está intacto, assim como o sentimento de um pelo outro.
“Se fosse para começar, escolher e passar por tudo de novo, eu escolheria ela outra vez. Seria ela para sempre”, disse esta semana com o mesmo frescor da juventude o senhor Francisco Ferreira Pinto, referindo-se à sua Maria Francisca Carvalho. A mulher que lhe causa suspiros, orgulho e ciúmes.
Qual é a fórmula para viver tantos anos com a mesma pessoa?, pergunta-se ao casal. Titico dá os ensinamentos dele: “Aceitar a pessoa como ela é. Isso é o mais importante. Acho que começar de novo todo dia e conquistar todo dia. E, acima de tudo, precisa amar muito e seguir os ensinamentos divinos de honrar, respeitar e perdoar”. Loura destaca o respeito como sua medida mais importante: “Amor e respeito é o que supera tudo, mesmo com as divergências. Existem os baixos, mas sempre pensamos que dois é melhor que um. Se um cair, o outro levanta”.
A vida deles não é hollywoodiana, mas poderia ser exibida em filme, como aqueles que eles juntos reproduziam antigamente de forma improvisada nos mercados municipais do entorno de Alexandria, interior do Rio de Grande do Norte, para dar o sustento à família. Seria uma película daquelas que o espectador sai da sala de exibição para a casa lembrando que a felicidade está no trivial. Em casa, dona Loura era a prática do casal. Aquela que mantinha o bom senso. “Nunca foi de elogiar, demonstrar sentimentos e o jeito de demonstrar carinho, inclusive pelos filhos, era se esmerando nos cuidados com o lar e a aparência dos filhos”, conta Lêda Pinto, a primeira filha do casal. Titico ajudava nas tarefas domésticas, por vezes ajudava a lavar pratos, cuidar da higiene dos filhos e dosava medicamentos. Tinha dias que se aventurava a cozinhar o velho feijão com arroz e carne.
Durante seis décadas o casal faz refeições e dorme junto no mesmo horário. Titico ficou diabético perto dos 70 anos e o desempenho sexual dele ficou comprometido, mas…. “Cada vez que o levamos para uma consulta médica, qualquer que seja a especialidade, ele pede que receitem Viagra”, conta Lêda, falando do pai piadista. Certa vez, o médico concordou. Fez uma ressalva para que usasse uma vez por semana, no máximo. Titico retrucou: “Uma vez por semana eu já faço”.
A trajetória de Titico e Loura é feita de mil contos. Ele sempre o responsável pelos momentos lúdicos. Ela na retaguarda, com pé no chão. Lutaram muito para criar os sete filhos Lêda, Manoel, Gutemberg (que faleceu com 6 meses de idade), Gutemberg (o segundo, que viveu), Ieda, Jônatas e Ari. Trabalharam numa central telefônica, foram feirantes, venderam roupas. Toda uma vida registrada pelas lentes dele, que adorava fotografar, e agora pelos olhos de Lêda, que realça em imagens a história de dois jovens que se casaram aos 19 anos, ficaram juntos por 60 anos e que estão dispostos a recomeçar uma união todos os dias.