No livro é narrada a longa juventude dos que lutam contra a injustiça, não importa a idade, dos 16 aos maiores de 80 anos, sempre.
Urariano Mota (texto)
Reprodução da internet (imagem)
Em determinado ponto do romance “A mais longa duração da juventude” se escreve: “No píncaro do tempo, não decaíram, como se fossem uma revolta contra a biologia. À maneira de Goethe no poema “Um e Tudo”, eles foram atravessados pela alma do mundo, e com ela lutaram sem descanso, como se vivos pudessem ter a eternidade”.
O romance terá novo lançamento na Biblioteca Central da UFPE, na próxima quarta-feira a partir das 17 horas. No livro, é narrada a longa juventude dos que lutam contra a injustiça, não importa a idade, dos 16 aos maiores de 80 anos, sempre. E para mostrar que tão alto desejo é a expressão da verdade, reúno a seguir trechos da opinião de leitores jovens de diferentes gerações.
Thauan Fernandes, 25 anos, presidente da UJS Recife:
“Eu terminei a primeira parte ontem, e entendi plenamente os que falam que leem devagar pra não sair da sua companhia, meu caro. Desde a história da ratazana que eu estou pegado no livro. Eu fico ansioso pelo próximo ‘causo’ recifense. Rapaz… esse livro pra um bom jovem recifense, que tem histórias pela cidade, é identificação total”
Paulo Verlaine, jornalista e escritor, 67 anos:
“A Mais Longa Duração da Juventude –romance com base em fatos reais – do escritor pernambucano Urariano Mota, com destaque nacional, chega no momento oportuno: hoje, saudosistas da ditadura militar (1964-1985) – ou pessoas que nunca viveram aquele período opressivo – acham que a melhor solução para os problemas do Brasil é a intervenção das Forças Armadas. É o retrato do País nos anos de chumbo, na década de 1970, no auge da ditadura militar, onde imperavam o medo, a tortura e os assassinatos de opositores do sistema vigente”.
Eduarda França, militante da UJS, 23 anos:
“Quero apenas relatar a experiência que foi ler A mais longa duração da juventude. E por que falar sobre esse livro e não falar dos outros? O que ele tem de especial é a proximidade com a nossa realidade. É um livro de ficção que ao mesmo tempo é brutalmente real, que conta a história de jovens militantes no Recife durante os anos de chumbo da ditadura, e traça um contraste com a juventude atualmente. Mas ele é muito mais que isso. Esse é um livro que traz efeitos colaterais no seu corpo, que te causa um mal-estar com a verossimilhança com a qual denuncia a repressão, a luta, a pobreza no calor opressivo do Recife dos anos 70, quando o privilégio da militância era ter um quarto sujo pra dormir em companhia de ratos, ou usar seus últimos trocados pra comprar uma sopa para um camarada. E pra quem é militante o soco no estômago é duas vezes mais forte: A angústia que sentem os personagens é a mesma que sentimos, em tempos de retrocessos, em que tememos a ascendência inesperada do fascismo na população do Brasil afora”.
Renato Mayer, pesquisador, fotógrafo, 71 anos:
“Pela leitura, reconstruímos, no pensar e agir dos militantes de esquerda, muitos já na clandestinidade, a torrente de ideias que nos chegam e chegavam, sem controle, sem censura e sem sair do Recife. O livro absorve continuamente. Abala verdades íntimas do leitor, como se ele também fosse (e, na verdade, se torna) personagem. Como escreve o autor, ‘com o olhar de 2016, só a lembrança repõe a dimensão do que não víamos’. Soledad, traída e torturada, que desperta e alimenta a paixão do jovem militante. São páginas e páginas a rever e tentar compreender retrospectivamente como a bela, a musa Soledad, foi capaz de se enredar em uma história tão canalha e fatal. Um episódio dolorosíssimo, cuja narrativa dilacera até quem esteve relativamente longe desses acontecimentos”.
E voltemos ao belo depoimento de Eduarda França, na força dos seus 23 anos:
“No romance estamos todos nós que resistimos contra as forças reacionárias no Brasil ultimamente, pois compreendemos o perigo de que as coisas só piorem daí adiante, e por entender que a ditadura militar é uma página na história do Brasil que ainda não foi completamente virada. Ele te coloca contra a parede e te faz encarar coisas que você deliberadamente desviaria o olhar. Chorei no caminho do trabalho, dentro do transporte público, e teria chorado mais se não tivesse outras coisas pra fazer. Internamente estou chorando até agora. É um livro que com certeza irei reler, duas, três, cinco mil vezes, enquanto restar juventude em mim”.
Quarta-feira, a partir das 17 horas, na Biblioteca Central da UFPE. Na mesa haverá debate com o autor, mais Michel Zaidan, cientista político, e Thauan Fernandes, presidente da UJS Recife.