13.12

 

Trocas de aeronaves desestimulam qualquer um a conhecer outros países da América do Sul.

Luce Pereira (texto)
Samuca (arte)

A família Santos vinha se preparando há tempos para conhecer a Argentina e o Uruguai, um sonho acalentado por pai, mãe e filho desde que um primo próximo do casal, que trabalhava em navios, desembarcou em Buenos Aires, depois em Montevidéu e voltou empolgado com as duas cidades, apesar de só haver passado dois dias livres em cada porto. Isto faz uns cinco anos. De lá para cá, decidiram guardar a sete chaves as economias e viajaram recentemente, os três. Logo de início, o maior dos problema que todo mundo quer evitar, mas, dependendo da época, não consegue: voo direto, porque a frequência semanal entre o Recife e as capitais é, geralmente, de apenas um. Resultado: compraram passagem via São Paulo e levaram mais de 12 horas para chegar ao destino. Exaustos e ainda sem “engolir” o preço exigido pelo taxista, que deu voltas e voltas – segundo supuseram, pelo tempo –, cobrou por mala conduzida e ainda pelo fato de o veículo sair do aeroporto. Aliás, taxistas são um capítulo à parte na via crucis que os turistas de bolso curto enfrentam, na Argentina, para não se sentirem tão depenados.
E os marinheiros de primeira viagem são os que mais sofrem – inclusive estranhando os cansativos procedimentos de imigração, por mais alertados que sejam a respeito. A sorte é que a euforia frente ao novo costuma reduzir as frustrações a patamares administráveis, até porque trata-se de investimento, estão em jogo economias e um sonho. Não vale a pena jogar tudo pelo ralo, dando importância a coisas como dinheiro falsificado, inclusive, que circula muito nos serviços de Buenos Aires. O trio aproveitou tudo o que o turista comum vê pela primeira vez, mas encontrou a cidade suja, não achou graça na feira de Santelmo e se decepcionou com a comida na noite reservada ao tango, sem falar nos constantes alertas de gente mais bondosa sobre ter cuidado em alguns lugares. Isso incomodou mais, pois pensavam que longe do Brasil não precisariam temer o fantasma da violência. Felizmente, nada aconteceu.
Os cinco dias em Montevidéu, porém, deixaram neles outra impressão, muito melhor. Acharam-se mais acolhidos e viram uma cidade bonita e até convidativa para comprinhas, das quais ninguém consegue se livrar numa primeira visita ao exterior. Possivelmente, as minhas impressões a respeito das duas cidades tenham influenciado de alguma maneira, pois em setembro também visitei a ambas e acabei mais envolvida pelos encantos do Uruguai, que começam com o próprio povo. O problema foi o mesmo enfrentado por eles no fim do breve período sabático – voltar para Buenos Aires, de lá para São Paulo e, no confuso e desconfortável Aeroporto de Guarulhos, ter que apanhar as malas para novamente fazer check-in no voo que trará até o Recife.
Nesta segunda-feira, mais um direto saindo do Recife (Avianca) foi inaugurado, agora para Bogotá, na Colômbia, destino que tem caído nas graças do povo do continente. A viagem durará seis horas e vinte minutos, porém a frequência é a mesma, apenas uma vez por semana, sempre neste dia, o que obriga o passageiro a apelar para o anjo da guarda e a persistência quando quiser um assento em períodos mais concorridos. Ou seja, não basta apenas ter R$ 1,6 mil (taxas inclusas) para viajar na classe econômica, há que contar com uma ajudinha extra da sorte. Do contrário, é melhor repensar o destino ou a forma de chegar a ele, pois existem outras. Cruzeiros (para quem tem tempo, obviamente) são agradáveis, não custam os olhos da cara e estão longe de deixar o passageiro exausto.