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Pesquisa revela que as mulheres no Recife mantêm uma relação mais amigável com o ciclo menstrual.

Alice de Souza (texto)
Roberto Ramos (foto)

Tabu na sociedade e controversa entre os profissionais médicos, a menstruação é considerada um demonstrativo de saúde para as recifenses. Face ao crescente debate sobre o corpo feminino, uma pesquisa realizada pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), em parceira com o Instituto Datafolha e a farmacêutica Bayer, mostrou que as mulheres no Recife mantêm uma relação mais amigável com o ciclo que a maior parte das que vivem em outras partes do Brasil. Por outro lado, alimentam mitos que ligam saúde e menstruação.
Mesmo com cada vez mais opções no mercado para interromper o fluxo mensal, as recifenses são as menos interessadas no país em aderir a esses meios. O levantamento realizado em outubro deste ano em oito capitais mostrou que, enquanto em Porto Alegre mais de sete em cada 10 mulheres desejam passar meses sem menstruar, no Recife essa proporção é de quase quatro em cada 10. Ainda que seja o público feminino que mais ressalta a importância de controlar a própria menstruação, no Recife as mulheres são um ponto de resistência à adesão de medidas farmacológicas de controle.
A capital pernambucana também dividiu com o Rio de Janeiro a liderança no percentual de mulheres que mantêm o hábito mensal de menstruar. No Recife, nove em cada 10 mulheres preservam o ciclo regular. Além disso, a cidade apresenta um dos menores índices de mulheres que rejeitam esse período da vida. Enquanto no Brasil a média de mulheres que não gosta da menstruação é de 55% – e chega a alcançar a taxa de 75% em cidades como Porto Alegre -, o Recife mantém um percentual de 52%.
Para mulheres como a analista de sistemas Gabriela Vasconcelos, 34 anos, a menstruação não é incômoda. Por outro lado, é um sinal de saúde. “Como eu não sinto nada durante o período, é tranquilo. Acredito que é normal menstruar e que, se interrompê-la, pode ter alguma consequência para o organismo”, contou. A opinião de Gabriela é a mesma de seis em cada dez mulheres recifenses, a maior taxa do país.
Entretanto, alertam os especialistas, o fluxo não quer dizer obrigatoriamente saúde. Esse é um dos maiores mitos que chegam com as mulheres ao consultório, explica a ginecologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Aleide Tavares. “Uma mulher saudável, sem nenhuma doença, que menstrua regularmente, pode ser um indicativo de saúde. Porém, a partir do momento que essa mulher decide, por opção, deixar de menstruar, não significa que ela desenvolverá doenças.”
Para o ginecologista e obstetra dos hospitais Albert Einstein e São Luiz José Bento, a mulher não foi feita para menstruar e sim para engravidar. “Antigamente, a mulher engravidava com frequência, amamentava, então passava muito tempo sem menstruar. Esse é um fenômeno da mulher moderna”, diz. Segundo ele, a produção de estrógeno durante a ovulação pode, inclusive, trazer consequências como o aparecimento de miomas e a endometriose.
O coordenador da ginecologia e obstetrícia do Hospital Santa Joana Recife, Edilberto Rocha, explica ainda que a menstruação regular demonstra que “aparentemente” os hormônio relativos à reprodução e o trato reprodutivo estão normais. “Mas isso não excluir a presença de patologias. Para saber se está tudo bem, a mulher precisa fazer consultas regulares e acompanhar os exames de rotina”, esclarece.