A edição do Diario de Pernambuco de 15 de março de 1985 já seria histórica. Afinal, poucas horas depois de ser impressa e distribuída para bancas de revistas, gazeteiros e assinantes, tomaria posse o primeiro civil depois do domínio dos fardados em uma ditadura iniciada em 1964. Tancredo Neves, o experiente parlamentar mineiro, subiria a rampa do Palácio do Planalto levando com ele a esperança de milhões de brasileiros pela volta da democracia. Mas a manchete que o Diario e todos os jornais brasileiros estamparam era um assombro, quase um pesadelo. Tancredo havia adoecido e José Sarney assumiria temporariamente o governo até a sua volta. Isso se os militares permitissem.
“O presidente eleito Tancredo Neves foi operado com urgência, esta madrugada, de diverticulite (inflamação dos divertículos ou pequenos sacos intestinais) e deixou a sala de cirurgia a 1h45m. Seu quadro clínico não apresenta gravidade. Ao contrário, todos os prognósticos são de melhora progressiva. A operação durou uma hora e 35 minutos e foi um êxito. Em consequência do impedimento, por doença, do novo chefe da Nação, o vice-presidente José Sarney tomará posse no cargo, hoje, às 10h, no Congresso Nacional, mas foi cancelada a solenidade de transferência, no Palácio do Planalto, prevista para as 11h. Sarney se limitará a dar posse coletiva aos ministros ao meio-dia, no Planalto”, informava o texto da capa, o único espaço que, pelo adiantado da hora, foi possível alterar no jornal.
Naquela edição, o Diario circulou com um caderno especial de 48 páginas, também encartado em 11 jornais dos Diários Associados, com uma radiografia completa do que foi o governo João Figueiredo e do que se esperava da Nova República de Tancredo Neves. Para o leitor, seria uma experiência estranha folhear um jornal onde a esperança deu lugar ao medo de que tudo o que foi conquistado a duras penas poderia regredir. Trinta anos depois, a edição daquele dia 15 de março de 1985 ficou mais histórica ainda.