Em Foco 1104

A participação do candidato derrotado nas eleições presidenciais ajuda ou atrapalha as manifestações? E os protestos do dia 12 de abril serão maiores ou menores que os de 15 de março? Tema do Em Foco do Diario de Pernambuco do sábado, por Vandeck Santiago. A foto que ilustra a página é de autoria de Ed Alves, repórter fotográfico do Correio Braziliense.

Novos protestos

Vandeck Santiago  (texto)
Ed Alves  (foto)

Candidato derrotado nas eleições presidenciais, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) divulgou vídeo ontem nas redes sociais convocando a população a participar dos protestos de amanhã contra a presidente Dilma Rousseff. Sua convocação foi gravada dentro de um carro em movimento, ele aparece com a mão na alça de segurança, sentado no banco do passageiro. Afirma que os brasileiros irão às ruas para dizer que “não aguentam mais tanta mentira, não aguentam mais a inflação saindo de controle, o desemprego aumentando e um governo que não governa mais”. Conclui classificando o governo Dilma como “medíocre”.
Faltou dizer se ele próprio estará presente nas manifestações, mas esta não é a maior dúvida em relação ao que acontecerá neste domingo. A grande dúvida é se os protestos repetirão o sucesso que tiveram em 15 de março. Naquela data dois acontecimentos atiçaram os ânimos para o ato: o primeiro foi o pronunciamento da presidente (quando o panelaço deu as caras pela primeira vez); o segundo, as manifestações pró-governo organizadas por movimentos sociais.
Como elemento “atiçador” para o de amanhã, o que houve foi a prisão ontem de três ex-deputados envolvidos na Operação Lava Jato, entre eles o petista André Vargas (PR). Não tem o mesmo efeito mobilizador dos dois anteriormente citados, mas mantém o assunto “corrupção” no topo das manchetes.
As manifestações de amanhã servirão para mostrar se elas continuam evoluindo no sentido de incorporar cada vez mais pessoas. Como vocês lembram, logo após as eleições já teve protestos de ruas em grandes cidades, como São Paulo e Brasília. Tinham um indisfarçável ar de dor de cotovelo, explosão de sentimentos dos que haviam perdido a eleição e não se conformavam com a derrota. Mas o sentimento contra o governo ampliou-se depois dos anúncios do ajuste fiscal, com medidas que limaram direitos dos trabalhadores e decretaram que estava aberta a temporada de cortes. O desaguar desse sentimento, ampliado, aconteceu no dia 15 de março, surpreendendo a todos, com centenas de milhares de pessoas enchendo as ruas.
De lá para cá, a deterioração da imagem do governo continuou. Pesquisa do Datafolha divulgada em 18 de março apontou que a administração Dilma atingira a marca de 62% de desaprovação – a mais alta taxa de desaprovação de um governante desde setembro de 1992, véspera do impeachment de Fernando Collor.
Esse conjunto de fatores – do vídeo do Aécio à mudança do perfil dos protestos – lança sobre as manifestações de amanhã pelo menos dois interesses extras. O primeiro é saber que efeito terá para o simbolismo dos atos uma eventual participação de Aécio Neves (muitos nomes da oposição estiveram nas ruas em 15 de março, mas isso não se compara com o significado da presença do candidato derrotado). O segundo é avaliarmos a temperatura das ruas, neste momento. Mantém-se elevada ou tende a refluir? Seja qual for o resultado, não significa que as pessoas estejam menos indignadas ou menos insatisfeitas. Mas uma coisa são indignados e insatisfeitos nas ruas, e outra coisa é quando eles ficam no sofá.