Corria o ano de 1935 e moradores do Cordeiro, no Recife, estavam assombrados com a presença de um fantasma – ou um lobisomem – perambulando pelas ruas do bairro altas horas da noite.
O bicho era pintado com as cores mais horripilantes. Poucos se arriscavam a ficar até tarde nas calçadas.
Mas Luiz do Banho ficou de tocaia e conseguiu surpreender a criatura. O herói, na verdade, não teve coragem bastante para encarar o ser sobrenatural. Correu para chamar os cavalarianos da Força Pública.
Na fuga, a criatura quase conseguiu driblar os perseguidores, mas foi vista entrando na casa 172 da Rua Amélia.
Ao tentar entrar à força na humilde residência do verdureiro José Luiz, o soldado José Josué dos Vasconcelos foi ferido na testa por uma porretada. O dono na casas levou umas pancadas de espada e fugiu.
Na busca no local, surgiu a irmã do verdureiro, de nome Minervina, 23 anos, trajando calça culote e sapatões.
Estava desvendado o mistério. Minervina era o lobisomem. Só agia assim porque gostava de andar vestido de… homem.
Esta deliciosa história ganhou a capa do Diario de Pernambuco no dia 19 de janeiro de 1935, um sábado.
No dia seguinte, o jornal trouxe “declarações interessantes” de Minervina, com foto dela e do irmão, o verdureiro, mas com a identificação trocada. O texto original segue abaixo, na íntegra.
Com a descoberta do lobisomem do Cordeiro cessou o sobressalto da população, em sua maioria composta de gente simples que ali habita.
Minervina Xavier, até então, a ‘encapuzada’, continua sendo objeto da curiosidade pública.
As pessoa que dela se aproximam desejam saber o motivo porque se entregava a tão perigosa prática.
A todos a ex-fantasma diz que o seu o ato obedecia unicamente ao desejo de andar em trajes masculinos, o que não fazia por mal, acrescentando que se não fosse proibido não tiraria nunca as calças culote nem o chapéu grande que usava em suas fantasmagóricas aventuras noturnas.
Convidada a fotografar-se, Minervina atendeu com toda satisfação, ao nosso repórter, sentindo, como declarou, não ter em mãos a indumentária com que se exibiu nas últimas noites.
Alinhou o cabelo, mudou de roupa e posou para nossa objetiva em companhia do seu irmão José Luiz, o verdureiro, que tomou parte tão importante nos fatos de anteontem.
A casa de José Luiz fica à Rua Amélia, quase perto do Prado.
Adoro essas historias!