Quando o Capibaribe e o Beberibe se unem, terminam por formar o Oceano Atlântico. Os demais rios do estado constituem o Índico e o Pacífico. Esta irônica afirmação, tão significativa da mania de grandeza dos pernambucanos, foi usada pelo repórter do Diario de Pernambuco Fernando de Magalhães Melo em 1975, depois que os recifenses enfrentaram a pior enchente do século, com mais de 80% dos bairros atingidos e 80 mil desabrigados. Drama que culminou com o boato do estouro de Tapacurá.

No dia 28 de julho de 1975, o jornal publicou meia página com o relato de Fernando mostrando o que tem de comédia em uma tragédia. A canoa improvisada, a pinga no que deveria ser hora de trabalho e o calção no lugar do terno compuseram o cenário recifense naquela época.

Mas o relato do repórter também se torna crítico ao lembrar como era viver em uma capital com 1,2 milhão de habitantes e uma rede de saneamento precária. Quarenta anos depois, se a população aumentou, a infraestrutura não acompanhou o ritmo.

“Com toda galhofa possível, com todo hábito que já se tornou folclore, a população não pode esquer a tortura e o desespero de um sem número de seres em condições quase subumanas. Sem alimentos, água (sarcástico paradoxo), higiene ou mesmo um simples lençol, os abrigos instalados nos mais diversos pontos da região não são suficientes para atender às necessidades exigidas para uma sobrevivência digna”.