Ele tem 48 anos, é judeu, jornalista e pai. Ou jornalista, pai e judeu. Ou pai, judeu e jornalista. Se você gosta de classificações, escolha a que melhor caracterizaria Etgar Keret. Tudo isto vai perder a importância à medida que se vai lendo “Sete anos bons”, livro que foi lançado no Brasil em abril pela Editora Rocco e que é uma boa opção de presente para este Dia dos Pais.
Em 192 páginas, Keret apresenta a sua habilidade em retratar o cotidiano em forma de crônicas. São 36 textos curtos, três páginas em média, escritos entre 2005 e 2012, onde a vida ganha um novo significado com o nascimento de Lev, o filho cujo parto se deu depois que os médicos atenderam os feridos de um ataque terrorista.
Os sete anos bons do título são uma referência à história bíblica de José no Egito, quando o hebreu decifrou o sonho do faraó. O livro reúne histórias que cobrem até os primeiros sete anos de vida de Lev, mas Keret também nos fala da morte do pai, das lembranças da mãe sobrevivente do gueto na Polônia, da irmã ultraortodoxa e do irmão alternativo e pacifista.
Para quem pensa que a sociedade israelense é dominada pelos extremistas, o livro de Keret nos apresenta um mundo que se divide entre a urgência movida pelo temor de um ataque – o da vez é uma possível bomba atômica iraniana – e a premente necessidade de se obter uma paz definitiva com os palestinos. Só assim o absurdo de se discutir se o filho vai ou não servir o exército entre os pais no jardim de infância ganha o humor devido.
O humor judaico é caracterizado pela autodepreciação e pela ironia fina. Ao retratar um mundo de taxistas mal-humorados e frequentadores de aviões mais ainda, Keret mantém uma tradição já seguida por outro cronista, Ephraim Kishon, que teve alguns dos seus livros lançados no Brasil nas décadas de 1980 e 1990. Por coincidência, uma das obras de Kishon chama-se “Como é duro ser pai”. Bem-vindo ao clube, Keret.
Confira uma das histórias do livro, disponibilizada pela Editora Rocco.