Primeiro foi o ataque à redação da revista satírica francesa Charlie Hebdo, em Paris, no momento em que se fazia a reunião de pauta. No dia 7 de janeiro, os irmãos Saïd e Chérif Kouachi assassinaram 12 pessoas, entre elas dois agentes da polícia nacional francesa.
Oito meses depois, a repórter Alison Parker e o cinegrafista Adam Ward, de uma pequena emissora norte-americana no estado da Virgínia, afiliada à CBS, foram mortos “ao vivo” por um ex-colega de trabalho, que transmitiu tudo pelas redes sociais.
As motivações foram diferentes, do terrorismo ao passional, mas reforçam a necessidade de se considerar que o jornalismo é mesmo uma profissão de risco. Não só em 2015. E o Brasil não está fora desta tendência.
Os números falam por si. A organização Repórteres Sem Fronteiras divulgou, em junho, uma carta aberta à presidente Dilma Rousseff exigindo que o governo brasileiro se comprometa a tomar medidas concretas e eficazes para combater a violência contra os jornalistas.
Nosso país é o terceiro mais perigoso das Américas para se exercer a profissão. Só perde para o México e Honduras, mas o barbarismo praticado por lá – tortura e decapitações – já está ocorrendo por aqui.
Segundo a ONG, 38 jornalistas foram assassinados no Brasil entre 2000 e 2014. Todos investigavam o crime organizado, violações de direitos humanos, corrupção ou tráfico de matérias-primas. A impunidade seria o combustível para os ataques.
Maio foi o mês mais cruel para os jornalistas brasileiros. Segue o texto da Repórteres Sem Fronteiras:
No espaço de apenas uma semana, morreram de forma brutal Djalma Santos da Conceição, radialista da RCA FM (Conceição da Feira, Bahia) e o blogueiro Evany José Metzker. O primeiro trabalhava sobre o assassinato de uma adolescente por traficantes. Seu corpo, encontrado em 22 de maio, apresentava sinais de tortura.
Metzker, que investigava há vários meses a ligação entre o tráfico de drogas e a prostituição infantil, desapareceu no dia 13 de maio, dia de sua última postagem no blog Coruja do Vale. Cinco dias depois, seu corpo decapitado foi encontrado em Padre Paraíso, no nordeste do estado de Minas Gerais.
O outro repórter assassinado foi o paraguaio Gerardo Servian Coronel, da Radio Ciudad Nueva. Ele era crítico de políticos da fronteira entre Brasil e Paraguai e denunciava ligações deles com o crime organizado. Dois homens de moto o abateram a tiros em Ponta Porã, no dia seguinte à prisão do ex-prefeito da cidade fronteiriça de Ypehu, Wilmar “Neneco” Acosta, acusado de ser o mandante do assassinato de dois jornalistas do diário paraguaio ABC Color.
No ano passado, 66 jornalistas foram assassinados no mundo, outros 853 jornalistas foram presos, 1.846 ameaçados ou agredidos e 130 precisaram se exilar, de acordo com o balanço da RSF. Na lista de zonas mais perigosas para o exercício da profissão aparecem, pela ordem, Iraque, Síria, Líbia, Paquistão e Colômbia.
Somos todos Charlie. Somos todos WDBJ-TV.